A fotografia das três raparigas judias deu a volta ao mundo. Foi captada na estação de Liverpool Street, em Londres, e apareceu em várias exposições e livros. E eram praticamente estes os factos conhecidos até agora.
A fotografia é cativante e leva-nos a questionar a identidade e a história destas três crianças. Passados 84 anos, eis as respostas.
A fuga
Inge Adamecz é o nome da rapariga que está sentada no meio, com um sorriso tímido, e relata à BBC que não se recorda do momento em que esta fotografia foi tirada e, por várias décadas, desconhecia completamente a sua existência.
Na altura tinha cinco anos e tinha fugido de casa em Breslau, na Alemanha - que agora se chama Breslávia e pertence à Polónia - com a sua irmã mais velha, Ruth, que tinha sete anos, e está posicionada à esquerda, claramente “afetada”, conta Inge.
A irmã mais nova e a mãe ficaram para trás e mais tarde descobriram que tinham sido assassinadas no campo de concentração, em Auschwitz.
Esta fuga fazia parte de uma operação humanitária chamada “Kindertransport”, que significa transporte de crianças. Consistia no transporte de cerca de 10.000 crianças judias, sem os pais, de países sob a asa nazi para o Reino Unido. O objetivo seria colocá-las a salvo, em famílias de acolhimento britânicas.
Mas como é que Inge Adamecz encontrou a fotografia?
Já reformada, Inge descobriu que ela e a sua irmã Ruth, que morreu em 2015, tinham sido imortalizadas para sempre como um ícone do Holocausto e do “Kindertransport”.
Folheando o livro do historiador Martin Gilbert, “Never Again”, deparou-se com a fotografia.
"Foi uma grande surpresa", expressa Inge à BBC.
Mas não ficou por aqui, Inge fez questão de contactar o autor para o informar de que estava viva. Quanto à rapariga que estava a segurar uma boneca no colo, nunca soube quem ela era. E ficou intrigada.
Hanna Cohn
Hanna Cohn e o seu irmão gémeo, Hans, fugiram de Halle, na Alemanha. E chegados à Inglaterra, embarcaram num comboio, onde se deparou com as irmãs Inge e Ruth.
Com uma boneca pousada no colo, Hanna, de 10 anos, olha atentamente para Inge.
Tal como Inge e Ruth, Hanna não se lembrava da foto que tinham tirado.
No entanto, Hanna tinha conhecimento da fotografia. O seu irmão, Hans, viu-a numa exposição numa exposição na Biblioteca Camden, em Londres. A fotografia simbolizava o 50.º aniversário do “Kindertransport”.
Hanna sempre teve curiosidade sobre quem seriam as outras duas raparigas, porém, não conseguiu reunir-se com elas, pois morreu em 2018.
Todavia, as suas filhas, Helen e Debbie, que preservam essa memória, conseguiram descobrir a identidade das duas raparigas graças a uma série de áudio da BBC. Estavam empolgadas em conhecer Inge.
Três meses depois, o encontro aconteceu no Museu Imperial de Guerra, em Londres, onde a fotografia está em exibição há mais de 20 anos.
"Inge é uma pessoa muito especial nas nossas vidas", disse Debbie, "Acho que a mãe ficaria muito orgulhosa de nós".