Apesar da unanimidade nas sondagens na vitória da direita, Pedro Sánchez (PSOE) garante que vai ganhar as eleições de 23 de julho e que será possível reeditar a atual coligação de esquerda no governo. Pela frente terá o Alberto Núñez Feijóo (PP), que desde que assumiu a liderança do partido ganhou todas as eleições.
Além da ideologia política, a separar Feijóo e Sanchéz estão 10 anos de idade e experiências. Um é formado em Direito, outro em Economia, um fez carreira em Espanha, do currículo do outro faz parte um considerável percurso internacional.
Um tem uma origem rural e não fala inglês, o outro é urbano e fluente em francês e inglês. Se um cultiva uma imagem de moderação, o outro apresenta-se com combativo.
Um está disposto a coligações com a extrema-direita, o outro quer dar provas de que o caminho que seguia era o correto. Um deles, indicam as sondagens, será o próximo primeiro-ministro espanhol, resta saber qual. A luta está na estrada e o lugar de chefe do Governo à espera da decisão dos espanhóis.
O político que "não queria ser político”
Quem o diz é Alberto Núñez Feijóo, o líder do Partido Popular (PP, direita), a maior força da oposição atualmente em Espanha. Apesar de assegurar que não queria ser político, Feijóo, nascido numa aldeia de 300 habitantes da Galiza e licenciado em Direito pela Universidade de Santiago de Compostela, chega a estas eleições com um currículo com quatro maiorias absolutas para o PP em eleições autonómicas.
Depois dos estudos universitários, tornou-se funcionário público da Galiza e assumiu o primeiro cargo de nomeação política em 1991, numa secretaria-geral do Governo Regional.
Em 2006 tornou-se líder do PP na Galiza, depois de passar pela presidência da empresa Correios e de cargos políticos em Madrid, e a 18 de abril de 2009 assumiu pela primeira vez a presidência do executivo regional.
Em março de 2022 assumiu a liderança do PP nacional. Desde então, e após um período de divisões internas, os populares foram avançando nas sondagens e passaram para a frente dos socialistas nas intenções de voto.
Sob liderança de Feijóo, o PP ganhou todas as eleições que houve em Espanha no último ano, incluindo com maioria absoluta em três regiões autónomas e as municipais de 28 de maio.
"Apresento-me para ser a alternativa serena que reclama a maioria dos espanhóis, à política de blocos que nos dividiu, para voltar a reunir Espanha em grandes pactos de Estado", afirmou recentemente Feijóo, prometendo "recuperar o sossego" do país e “deixar para trás as confusões, sobressaltos e divisões” da gestão de Sánchez.
Feijóo chegou à liderança do PP nacional com uma imagem de moderado e dialogante, de político de direita, conservador e rigoroso com as contas públicas, mas com preocupações sociais e pouco ideológico, protagonista de grandes consensos por onde passou, capaz de cativar grandes manchas de eleitorado de centro, à direita e à esquerda.
Uma imagem que tem, porém, sofrido alguns danos nas últimas semanas, por causa dos acordos que o PP assinou com o VOX para coligações em dois governos regionais e em executivos de grandes municípios.
Também recentemente, Feijóo admitiu coligar-se com o VOX no governo nacional, se depender do voto favorável dos deputados da extrema-direita para ser investido primeiro-ministro pelo parlamento.
O “sobrevivente” do tudo ou nada
O currículo político de Sánchez é o de um "sobrevivente", muitas vezes, contra todas as expectativas. Nascido em Madrid, Pedro Sánchez é doutorado em Economia e fez os estudos superiores na capital espanhola e em Bruxelas. Foi professor universitário, assessor no Parlamento Europeu, integrou o gabinete do alto representante das Nações Unidas na Bósnia durante a guerra no Kosovo e fala fluentemente inglês e francês.
Como primeiro-ministro, cultivou um perfil internacional, de intervenção e protagonismo nos fóruns internacionais, sobretudo na União Europeia e na NATO. É filiado no PSOE desde 1993 e tornou-se deputado em 2009, depois de ter sido vereador em Madrid.
Chegou a líder do PSOE em 2014 e perdeu por duas vezes eleições, com os piores resultados que o partido teve na história da democracia espanhola instaurada em 1977. O partido chegou a expulsá-lo da liderança em 2016, mas regressou ao cargo em maio de 2017, de forma surpreendente, numa candidatura contra o aparelho e os barões do PSOE.
Em junho de 2018 tornou-se primeiro-ministro sem ir a eleições, num momento em que nem sequer era deputado e quando os socialistas tinham o menor grupo parlamentar da sua história, ao fazer aprovar a primeira moção de censura a um governo na história de Espanha.
Venceu duas eleições em 2019 e acabou a liderar o primeiro governo de coligação da democracia espanhola, com a plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos, e em que contou com a viabilização do governo no parlamento por parte de partidos independentistas catalães e bascos, o que lhe vale até hoje acusações de negociar e fazer acordos com "inimigos de Espanha" e forças que querem acabar com o país só para se manter no poder.
Os admiradores gabam-lhe a resistência, a competitividade e a persistência, enquanto os críticos lhe apontam a irregularidade, decisões contrárias ao que prometeu, oportunismo para continuar à frente do Governo, arrogância e uma imagem fria e distante das pessoas.
Nestas últimas semanas, Sánchez tem dito que nunca mentiu quando disse, por exemplo, que não negociaria com separatistas catalães, e que apenas mudou de opinião, por ter percebido que esse era o melhor caminho para a questão da Catalunha, onde ao contrário do que acontecia há cinco anos não há hoje tentativas unilaterais de autodeterminação.
A mais recente das suas decisões inesperadas e metáforas de uma aposta "de tudo ou nada" é de final de maio passado, quando no dia seguinte às eleições regionais e locais que a esquerda perdeu anunciou a dissolução do parlamento e a antecipação de legislativas nacionais para 23 de julho.