O ex-presidente do governo regional catalão Carles Puigdemont pediu esta terça-feira uma amnistia para os independentistas condenados ou acusados, por causa da tentativa de autodeterminação da Catalunha em 2017, para viabilizar o novo Governo de Espanha.
A partir de uma conferência em Bruxelas, Puigdemont disse que esta é a condição para o partido do qual faz parte, o Juntos pela Catalunha (JxCat), iniciar negociações com as formações políticas que querem liderar o novo Governo de Espanha, na sequência das eleições de 23 de julho.
O antigo presidente catalão, considerado o líder de facto do JxCat, que tem nos cargos dirigentes outros nomes, reiterou que a tentativa de autodeterminação da Catalunha de 2017 "não foi um crime" e pediu "a eliminação de todas as ações judiciais contra os independentistas".
"O dia 1 de outubro não constituirá um crime, nem tão-pouco a declaração de independência, nem os protestos em massa contra a repressão e a sentença do Tribunal Supremo", afirma o político separatista.
Além desta exigência, o também eurodeputado pediu um "mecanismo de verificação e seguimento" dos acordos que vierem a ser estabelecidos.
Nenhum dos dois maiores partidos espanhóis, o Parido Popular (PP) e o Partido Socialista (PSOE) conseguiu maioria absoluta nas eleições e nos dois casos precisam do voto dos deputados do JxCat para voltarem a encabeçar um governo nacional, como sublinhou esta terça-feira o próprio Carles Puigdemont.
“Hoje Espanha tem, como eu disse, um complexo dilema para resolver. Repetir eleições, com o risco de os equilíbrios políticos serem tão frágeis como são agora; ou fazer acordo com um partido político que mantenha a legitimidade no dia 1 de outubro”, acrescenta.
Movimentos dos outros partidos
As declarações desta terça-feira de Puigdemont ocorrem depois de na segunda-feira o líder do PSOE, Pedro Sánchez, ter dito que a próxima legislatura deixará "definitivamente atrás" a fratura aberta na Catalunha em 2017 e ter garantido que é possível e vai conseguir um acordo para voltar a ser investido como primeiro-ministro.
Sánchez insistiu em que "o diálogo" é a via para a solução do conflito aberto na Catalunha, defendendo a sua desjudicialização, e prometeu coerência com aquilo que fez na última legislatura, em que indultou independentistas condenados e retirou do Código Penal o crime de sedição que levou catalães à prisão ou de que estavam acusados outros, como Puigdemont.
Em paralelo, na segunda-feira, a ministra do Trabalho e líder do plataforma de forças da extrema-esquerda Somar, Yolanda Díaz, reuniu-se em Bruxelas com Carles Puigdemont, naquele que foi o primeiro contacto público e conhecido entre um membro do Governo espanhol e o antigo presidente do executivo regional da Catalunha desde a sua fuga para a Bélgica.
A reunião durou cerca de três horas e no final o Somar e o JxCat divulgaram um comunicado em que disseram partilhar "a profunda convicção de os problemas políticos devem voltar aos canais políticos para serem encontradas soluções baseadas no diálogo".
Os partidos de direita e extrema-direita (PP e VOX, respetivamente) consideraram "um escândalo" o encontro de Yolanda Díaz com Carles Puigdemont, sublinhando que a líder do Somar é umas das vice-presidentes do atual Governo e que o antigo presidente catalão é "um fugitivo da justiça".
Carles Puigdemont vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça espanhola