Mundo

Mais de 60 alunas obrigadas a ir para casa por usarem abaya em França

Quase 300 alunas em França foram para as aulas com a abaya muçulmana. O país vai experimentar o uso de uniformes escolares obrigatórios ou a implementação de códigos de indumentária.

Uma mulher muçulmana passeia na cidade francesa de Nantes
Uma mulher muçulmana passeia na cidade francesa de Nantes
STEPHANE MAHE

Um total de 298 alunas foram esta terça-feira para os estabelecimentos de ensino, no primeiro dia do ano letivo, vestidas com a abaya muçulmana, peça de vestuário feminina proibida pela primeira vez nas escolas de França.

O número foi divulgado pelo ministro da Educação, Gabriel Attal, que, em declarações ao canal de televisão BFM, disse que as escolas francesas iniciaram hoje "uma fase de sensibilização, de pedagogia e de diálogo", sobre a questão do uso da abaya.

"A maior parte conformou-se com a norma", disse o ministro. Mesmo assim, 67 alunas recusaram, tendo sido obrigadas a voltar para casa, apesar de terem de voltar nos próximos dias “porque têm de estar escolarizadas”. "Nessa altura, veremos se se conformaram com a norma ou não", acrescentou Attal.

O ministro da Educação disse ainda que assinou uma carta dirigida às famílias das alunas que voltaram a casa a "explicar que a laicidade não é um ato de coação".

A abaya é um vestido tradicional muçulmano que cobre as mulheres da cabeça aos pés.

O Executivo francês considera que a abaya é um símbolo religioso, utilizado pelas estudantes que pretendem identificar-se como muçulmanas. A França já proibiu, há vários anos, o uso de símbolos religiosos nas escolas e o uso frequente da abaya por parte das alunas muçulmanas levou o Governo de Paris a proibir o uso da peça de roupa, a partir do ano letivo que começou esta terça-feira no país.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a proibição da abaya face a "uma minoria que desafia a laicidade" da escola francesa e reafirmou que o Governo pretende experimentar o uso de uniformes.

"A escola deve permanecer neutra. Eu não sei qual é a sua religião e você não sabe qual é a minha religião", disse Macron em entrevista a um popular canal da rede social Youtube transmitida hoje.

Macron disse ainda que a abaya é um símbolo religioso utilizado para identificar as estudantes muçulmanas e alertou que "na luta para preservar a laicidade não se podem abandonar os professores e os diretores" dos estabelecimentos de ensino.

"Não podemos fazer de conta que o assassinato de Samuel Paty não aconteceu", disse Mácron, referindo-se ao professor francês do ensino secundário assassinado em outubro de 2020 por ter mostrado uma caricatura do profeta Maomé numa aula sobre a liberdade de expressão.

Macron disse ainda que a medida não pretende estabelecer "paralelismos" nem "estigmatizar ninguém", mas sublinhou que "não se pode esconder o pó para debaixo do tapete".

O Presidente também se mostrou contrário à utilização na escola pública de qualquer peça de vestuário que considerou "excêntrica" e, por isso, afirmou que o Governo vai experimentar o uso de uniformes escolares obrigatórios ou a implementação de códigos de indumentária.