Na celebração, para a criação de 21 cardeais (18 dos quais eleitores num futuro conclave), o Papa referiu-se aos novos membros do Colégio Cardinalício que vieram de "diversas partes do mundo", para sublinhar que "o mesmo Espírito que fecundou a evangelização dos vossos povos, agora renova em vós a vossa vocação e missão na Igreja e para a Igreja".
Américo Aguiar, até agora bispo auxiliar de Lisboa, recebeu o anel e barrete cardinalícios, assim como a bula de criação, tendo-lhe sido atribuído o título da Igreja de Santo António de Pádua na Via Merulana, em Roma.
Quando o líder da Igreja Católica pronunciou o nome do novo cardeal português, ouviram-se palmas dos muitos portugueses, que fizeram questão de estar presentes na Praça de São Pedro, e seguiu-se um abraço caloroso entre Américo e Francisco.
Foram titulares desta Igreja o cardeal-patriarca de Lisboa António Ribeiro (1928-1998) e o cardeal brasileiro Claudio Hummes (1934-2022), que inspirou o Papa a escolher o nome de Francisco, ao dizer-lhe "não te esqueças dos pobres".
Este é o nono consistório para a criação de cardeais de Francisco, cujo pontificado começou em março de 2013, após a resignação do Papa Bento XVI (1927-2022).
No seu pontificado, Francisco já nomeou outros três portugueses como cardeais: Manuel Clemente (patriarca emérito de Lisboa), António Marto (bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima) e Tolentino Mendonça (prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação). Este sábado foi a vez Américo Aguiar, futuro bispo da Diocese de Setúbal.
Quem fez questão de marcar presença foi a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, que disse que esta nomeação “é o reconhecimento” pelo trabalho feito durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Também o novo patriarca de Lisboa marcou presença na cerimónia desta manhã. D. Rui Valério destaca que a escolha do Papa é sinónimo de “esperança e confiança” na juventude.
No Vaticano esteve ainda o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, garante que a elevação de D. Américo Aguiar é importante para o país.
O discurso de Francisco
Recorrendo à imagem da orquestra, que "representa a dimensão sinfónica e a sinodalidade da Igreja", o tema da Assembleia do Sínodo que começa na próxima quarta-feira, o líder da Igreja Católica sustentou que esta metáfora "pode muito bem iluminar o caráter sinodal da Igreja".
"Uma sinfonia vive da sábia composição dos timbres dos diversos instrumentos, cada um dá o seu contributo, ora sozinho, ora combinado com outro, ora com todo o conjunto", referiu, vincando que “a diversidade é necessária, é indispensável, mas cada som deve concorrer para o resultado comum. E, para isso, é fundamental a escuta mútua, cada músico deve ouvir os outros”.
Depois o Papa salientou que "se alguém [se] ouvisse apenas a si mesmo, por mais sublime que possa ser o seu som, não seria de proveito à sinfonia", além de que "o mesmo aconteceria por parte da orquestra não ouvisse as outras, mas tocasse como se estivesse sozinha, como se fosse o todo".
Quanto ao diretor da orquestra, "está ao serviço desta espécie de milagre que é sempre a execução de uma sinfonia", pelo que "deve ouvir mais do que todos os outros".
Segundo Francisco, "ao mesmo tempo, a sua tarefa é ajudar cada um e a orquestra inteira a desenvolver ao máximo a fidelidade criativa, a fidelidade à obra que se está a executar, mas criativa, capaz de dar uma alma àquela partitura, de fazê-la ressoar de forma única, aqui e agora".
"Faz-nos bem espelhar-nos na imagem da orquestra, para aprendermos cada vez melhor a ser Igreja sinfónica e sinodal", adiantou, propondo-a de modo particular aos membros do Colégio Cardinalício, aos quais pediu que sejam "evangelizados e evangelizadores, não funcionários".
Américo, o segundo cardeal mais jovem de sempre
Com 49 anos, Américo Aguiar passa a integrar o Colégio Cardinalício, que tem por missão aconselhar o Papa, sendo o segundo cardeal mais jovem, depois do da Mongólia, o italiano Giorgio Marengo, missionário da Consolata.
Natural de Leça do Balio, Matosinhos, licenciado em Teologia e mestre em Ciências da Comunicação, o até agora bispo auxiliar de Lisboa foi ordenado sacerdote em 2001, sendo integrado na Diocese do Porto.
Nesta, desempenhou vários cargos, como pároco e vigário-geral. Foi também diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Portuguesa e presidente da Irmandade dos Clérigos, antes de ingressar na Diocese de Lisboa.
Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 e coordenador geral da organização da visita, em agosto último, do Papa a Portugal, foi um dos 21 novos cardeais (18 dos quais eleitores) anunciados por Francisco em 9 de julho.
O prelado junta-se ao patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, a António Marto, bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, e a Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, como cardeais eleitores -- e também podem ser eleitos por terem menos de 80 anos -- num futuro conclave para escolher o sucessor do Papa Francisco, de 86 anos.
No Colégio Cardinalício estão mais dois portugueses que, por terem mais de 80 anos, não participam num futuro conclave: Saraiva Martins, que foi prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, e Monteiro de Castro, que teve uma vasta experiência diplomática ao serviço do Vaticano.
Portugal teve um Papa, João XXI, cujo pontificado começou em setembro de 1276 e terminou em maio de 1277. Morreu na sequência de um acidente na Catedral de Viterbo, Itália, cujas obras acompanhava, e onde ficou sepultado.
Natural de Lisboa, Pedro Julião ou Pedro Hispano era designado no seu tempo como filósofo, teólogo, cientista e médico.
Com LUSA