Analistas de política internacional defenderam esta quinta-feira que as raízes do atual conflito entre Israel e Hamas incluem a suspensão das eleições de 2021 na Palestina e que uma solução imediata passa pela saída israelita dos territórios ocupados.
O argumento foi lançado por Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestiniana, num "webinar" subordinado ao tema "O Conflito entre Israel e o Hamas: O Que Virá a Seguir?", organizado pelo Carnegie Endowment for International Peasse.Para Barghouti, a única solução para a guerra é Israel "sair definitivamente dos territórios ocupados".
"Houve muitos erros dos palestinianos: não conseguiram realizar eleições e a Autoridade Palestiniana não conseguiu a reconciliação, mostrando uma passividade incompreensível, como se nada fosse com ela", numa altura em que Israel boicotava o processo, defendeu Barghouti, antigo ministro da Informação do Governo de Unidade Palestiniano.
Os argumentos de Barghouti foram secundados por Marwan Muasher, vice-presidente do Programa Carnegie para o Médio Oriente, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros (2002-04) e ex-vice-primeiro-ministro (2004-005) da Jordânia, que juntou outra razão para justificar o ponto a que se chegou no Médio Oriente: a "ocupação israelita tem sido sistematicamente ignorada" a nível internacional.
"A questão da ocupação tem de estar em primeiro lugar nas negociações. Se o assunto não for tratado com a urgência necessária, a violência nunca irá acabar, pelo que a alternativa é regressar às fronteiras de 1967", disse o diplomata jordano, que foi o primeiro embaixador da Jordânia em Israel.
Para Muasher, Israel mantém a Faixa de Gaza como "uma grande prisão" há 18 anos, tempo mais que necessário para, argumentou, organizações palestinianas se revoltarem contra a "ocupação e repressão", abrindo caminho a extremismos.
"Sob determinado ponto de vista, o ataque do Hamas não surpreendeu", defendeu.Num debate moderado por Joyce Karam, editora sénior do al-Monitor e também professora adjunta na Universidade George Washington, Celine Touboul, codiretora executiva da Fundação para a Cooperação Económica (ECF), um grupo de reflexão israelita sobre planeamento de políticas, admitiu que a "revolta palestiniana" a surpreendeu pela "dimensão e a escala" dos ataques do Hamas a Israel a 07 deste mês.
"Os ataques do Hamas foram muito violentos. Andaram a matar civis de porta em porta, mulheres e crianças. Fizeram dezenas, centenas de reféns. É muito grave", afirmou Touboul, sem comentar, porém, os "atos criminosos" cometidos pelo exército israelita, apoiados nalguns casos pelos colonos, nos territórios ocupados, tal como lembrou Amr Hamzawy, um analista político egípcio.
Segundo o também diretor do Programa do Carnegie Endowment para o Médio Oriente, o conflito, "independentemente de quem terá mais culpa", já desencadeou uma "crise humanitária muito séria e alarmante", que afeta mais de 2,5 milhões de palestinianos, impedidos de receber ajuda humanitária através da fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, nomeadamente em Rafah.
"Estão a ser cometidos crimes de guerra e tem de se condenar a morte de civis. O Egito tem feito muitos esforços , mas há muitos bloqueios. Há muita desinformação. Não é o Egito que está a bloquear a fronteira", frisou, sem apontar responsáveis.
Hamzawy disse temer "a anunciada ofensiva terrestre" do exército israelita, sobretudo pelo perigo de alastramento do conflito que poderá trazer à região do Médio Oriente, numa altura em que, num comunicado, nove países árabes -- Jordânia, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Omã, Qatar, Kuwait, Egito e Marrocos -- defenderam que o direito de Israel à defesa após o ataque do Hamas "não justifica violações flagrantes do direito internacional".
"Os Estados árabes parecem estar unidos numa causa comum. Israel é uma força ocupante, não haja dúvidas", advertiu, lembrando também que existe "muita manipulação do debate", pois tudo tem como pano de fundo o facto de Israel "nunca ter saído da Faixa de Gaza, nem da Cisjordânia.