Dorcas Cherop foi diagnosticada com cancro da bexiga aos 11 anos. Os médicos disseram-lhe que precisava de fazer tratamentos durante um ano, mas, para os realizar, a criança tinha de percorrer mais de 270 quilómetros para chegar à capital do Uganda – algo que se tornava complicado para os pais agricultores e com poucos rendimentos. Mas a Fundação Bless a Child trouxe-lhe uma nova esperança.
Os tratamentos no Instituto Oncológicos do Uganda são tendencialmente gratuitos, mas os custos das deslocações entre as regiões rurais e a capital, Kampala, tornam estes procedimentos incomportáveis para muitas famílias. Para Dorcas, que vive com os pais em Kapchorwa, no leste do país, a viagem até capital dura mais de sete horas, reporta a BBC.
“A minha mãe e pai são agricultores e eles não têm dinheiro suficiente para me levar de Kapchorwa, no leste do Uganda, para Kampala”, partilha a jovem.
Mesmo assim, de quinze em quinze dias, a família fazia-se à estrada para levar a jovem ao médico. A certa altura, acabaram por ficar sem dinheiro, conta a tia de Dorcas, Stella Chepchirir. Pensaram em desistir dos tratamentos e regressar a casa: “A parte mais triste era vê-la em sofrimento enquanto viajava as sete horas para Kampala e de volta”.
A desistência acaba por ser a solução para as famílias de várias crianças com cancro. Estima-se que, em 2021, uma em cada três crianças deixaram os tratamentos devido aos custos associados.
Em declarações à BBC, Joyce Balagadde-Kambugu, diretora do centro de oncologia pediátrica do instituto, explica que entre “80 e 85% das crianças com cancro no instituto são camponeses que vivem com menos de três dólares por mês (2,84 euros)”.
“Infelizmente temos uma situação muito triste, com uma taxa de perto de 50% de abandono dos tratamentos por causa disso”, acrescenta.
Uma cama, uma nova oportunidade
Os tratamentos oncológicos são prolongados e, idealmente, a criança terá de permanecer entre seis e sete meses em Kampala. Mas essa situação é financeiramente insuportável para muitas famílias. Algumas tentam contornar as despesas acampando em corredores do hospital, com apenas um cobertor de lã para se protegerem do frio, reporta a BBC.
Para ajudar as famílias, a unidade de pediatria oncológica juntou-se à Fundação Bless a Child num projeto que disponibiliza acolhimento para as crianças durante o período do tratamento. O projeto abriu portas em 2010, com apenas 10 camas, e tem agora quatro casas, cada uma com a capacidade para receber 100 crianças.
O projeto da Fundação Bless a Child acolheu mais de 6.000 crianças, nos últimos 13 anos. Uma dessas crianças foi Dorcas: três anos depois de terem desistido do tratamento, a família recebeu uma chamada inesperada a informar que havia um cama livre. Para a criança, foi a oportunidade de ter “uma nova vida” sem dor.
“Nós recebemos tudo, desde acomodação, a comida e até roupas”, afirma Dorcas, agradecida.
Segundo Joyce Balagadde-Kambugu, a iniciativa parece ter um efeito positivo e há muito menos crianças a desistirem dos tratamentos. Só no ano passado, a taxa de desistência caiu para os 9%.