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"Fraude eleitoral" em Moçambique provoca protestos violentos

Pelo menos três pessoas morreram, 10 ficaram feridas e 70 foram detidas durante os protestos das últimas duas semanas. Em causa está a vitória da Frelimo nas eleições autárquicas.

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Há duas semanas que Moçambique está a ferro e fogo, com protestos da oposição contra a anunciada vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) em 64 das 65 autarquias do país.

O balanço dos confrontos entre as forças de segurança de Moçambique e a população que se têm manifestado em várias cidades do país indicam que pelo menos três pessoas já morreram, 10 ficaram feridas e 70 foram detidas.

A oposição não aceita os resultados das autárquicas e acusa a vitória da Frelimo, que está no poder há 48 anos, de ser fraudulenta.

"Não aceitaremos nunca estes resultados, vamos manifestar até que a verdade eleitoral seja reposta", garante Venâncio Mondlane, cabeça de lista da Renamo à autarquia de Maputo.

Segundo João Feijó, investigador do Observatório do Meio Rural "a oposição tem os editais que comprovam que venceu na maioria das mesas de votos e com percentagem folgada", sendo que em alguns casos "a Frelimo ficou, inclusive, em terceiro lugar".

"Estamos indignados porque este país tem de começar a fazer eleições justas e verdadeiramente transparentes", diz Sílvia Cheia, mandatária do MDM.

O presidente da Comissão Nacional de Eleições, Carlos Matsinhe, garante que "o processo de apuramento geral foi realizado com base nas atas e editais do apuramento autárquico de intermédio e no mapa da centralização providencial".

No entanto, alguns tribunais distritais reconheceram irregularidades nas eleições e ordenaram a repetição de vários atos eleitorais, mas o Conselho Constitucional, a quem cabe exclusivamente a validação das eleições em Moçambique, anulou essas ordens dos tribunais distritais.

"Isto é um grande teste ao estado de direito em Moçambique, no sentido de verificarmos se o Tribunal Constitucional vai dar provimento às evidências que foram apresentadas pelos partidos da oposição ou se vai ceder a pressões", acrescentou João Feijó.

"Nós não fizemos fraude, trabalhámos para ganhar as eleições", assume Verónica Macamo, mandatária da Frelimo, que pede "serenidade".

Contudo, serenidade é o que tem faltado nas ruas de Moçambique onde a jovem população urbana diz estar cansada de não ter emprego, transportes e dinheiro para comprar pão.

Para já, das manifestações resultaram mortos, feridos e detidos, com a população a ser acusada de destruir património e a polícia moçambicana de lançar gás lacrimogéneo e de usar "força excessiva, incluindo munições reais".