Mundo

Análise

Violência dos colonos na Cisjordânia: Israel vai "fazer ouvidos de mercador" ao apelo do EUA

Na análise ao conflito no Médio Oriente, Ricardo Alexandre, jornalista da TSF e comentador da SIC, diz que "já são quase 1.000 mortos na Cisjordânia, na resposta que tem sido dada não propriamente pelas forças regulares israelitas, mas sim por grupos de colonos que têm estado na origem da violência".

Loading...

O secretário de Estado norte-americano apelou a Israel para que ponha fim à violência na Cisjordânia. Desde o início do conflito já morreram centenas de palestinianos às mãos dos colonos israelitas e dos soldados. O Exército israelita tem aumentado os ataques e incursões no território. Antony Bliken apelou a Israel para tomar medidas concretas para acalmar as tensões na Cisjordânia, onde vivem quase 500 mil colonos israelitas entre 3 milhões de palestinianos. Para Ricardo Alexandre, Israel “vai fazer como tem feito normalmente nas últimas intervenções da Administração norte-americana, vai fazer ouvidos de mercador”.

“Israel tem sido pouco sensível às intervenções dos Estados Unidos relativamente ao que acontece na Cisjordânia, que escapa um pouco aos radares, face ao que está a acontecer em Gaza, mas não deixa de ser muito grave. Já são quase 1.000 mortos na Cisjordânia, na resposta que tem sido dada não propriamente pelas forças regulares israelitas, mas sim por grupos de colonos, especialmente colonos, que têm estado na origem da violência, que depois desencadeia manifestações de palestinianos e resposta das forças do exército”, explica o jornalista da TSF.

O comentador da SIC sublinha que foi “é uma situação muito grave e não é de estranhar que os Estados Unidos tenham chamado a atenção das autoridades israelitas, mas até ao momento sem grande sucesso”.

Intervenção no Hospital Al-Shifa

Israel diz que encontrou um segundo corpo perto do Hospital Al-Shifa. Será uma militar, de 19 anos, que já tinha sido dada como morta na terça-feira. Já ontem, Israel informou ter encontrado o corpo de uma refém de 65 anos, num edifício perto do hospital. Terão encontrado também armas e túneis, usados pelo Hamas. As forças israelitas garantem que o sistema militar do Hamas no norte de Gaza está perto de ser destruído, mas para Ricardo Alexandre as expectativas que foram criadas por Israel em relação ao Hospital Al-Shifa foram muito elevadas.

“Israel estimava, foram feitas previsões, foram feitos anúncios de que Israel pensava que iria encontrar no hospital um autêntico comando militar do Hamas, o comando militar do Hamas estaria nos túneis por baixo do Hospital Al-Shifa e até o momento, apesar de já terem encontrado algumas armas no hospital e algum equipamento, não conseguiu, pelo menos até agora, provar, mostrar com imagens ao país e ao mundo essa essa base militar central do Hamas nos túneis do Al-Shifa”.

“Sabe-se que nesta altura as forças israelistas estão a fazer buscas, edifício o edifício, do complexo do hospital. É provável que venham a encontrar, é natural que venham a encontrar algo mais substancial, mas isso não aconteceu até ao momento”, adianta o comentador da SIC.

Questão humanitária sem solução à vista

Depois de mês e meio de conflito, a questão humanitária continua a ser muito precária, não só em relação à retirada de civis, mas sim da entrada de ajuda, em particular de alimentos para a população.

Os sistemas de comunicação na Faixa de Gaza estão esta sexta-feira inoperacionais, pelo segundo dia consecutivo, fazendo com que as agências de ajuda humanitária suspendessem as entregas transfronteiriças.

Ricardo Alexandre refere que a questão humanitária não tem uma solução à vista porque Israel tem sido intransigente, “enquanto não conseguir concretizar aquilo que estimou como sendo os objetivos militares”.

“A rendição do Hamas é algo que não se não se vislumbra, o Hamas não está a combater aqui uma guerra pelo terreno, pelo território, isso o Hamas já perdeu, o Hamas já sabe que nesta altura a capacidade de administrar de forma civil aquele território foi anulada, foi anulada pela ela operação de de Israel”,

“A guerra do Hamas é uma guerra ideológica e religiosa que tem por objetivo conquistar Jerusalém todas aquelas proclamações que o Hamas tem na sua carta programática de destruir Israel”, explica.

O comentador da SIC sublinha ainda que “o líder do Hamas em Gaza não está propriamente preocupado com as baixas dentro da sua organização, sejam pesadíssimas, como são, não está preocupado em que mais de metade da população de Gaza tenha sido obrigada a deslocar-se das suas casas”.

Papel da comunidade internacional

Para o jornalistas da TSF, a comunidade internacional tem "feito o possível, quer da parte das Nações Unidas, quer da parte de iniciativas bilaterais de alguns países” para tentar travar o conflito e as suas consequências para a população.

“Tem sido feito o possível num cenário destes que não é propriamente um cenário fácil para as operações humanitárias. Sabemos que nos últimos dias, Israel começou a autorizar a entrada de combustível, mas apenas para os veículos das Nações Unidas, as coisas acontecem muito a conta-gotas, enquanto a situação, a degradação da situação humanitária da população da Faixa de Gaza acontece a um ritmo muito mais veloz".