Mundo

Opinião

"Depois desta pausa a guerra não termina, Israel já disse que só vai acabar com o fim do Hamas"

O comentador da SIC Germano Almeida analisa o acordo entre Israel e Hamas que vai permitir uma pausa de quatro dias e a libertação de reféns e prisioneiros. "Depois desta pausa a guerra não termina, Israel já o disse, só vai acabar com o fim do Hamas".

Loading...

O Governo israelita aceitou na terça-feira um acordo com o grupo islamita Hamas para a libertação de reféns na Faixa de Gaza em troca da libertação de prisioneiros palestinianos e de uma trégua de quatro dias. Para Germano Almeida, é o maior acordo ao fim de um mês e meio de guerra, mas não significa que o fim esteja próximo.

"É a primeira vez que o Governo israelita aceita uma paragem da guerra desde 7 de outubro, mas a verdade também é que, perante o facto de haver desde já a garantia de 50 reféns israelitas libertados no espaço de quatro dias, é claramente uma vitória, em primeiro lugar para os próprios reféns e para as famílias dos reféns".

A partir de hoje até sábado, pelo menos, serão libertados entre 12 a 13 reféns. Falta saber como é que vai ser concretizada esta operação, como é que o Hamas vai cumprir, como é que Israel vai cumprir essa paragem.

“Há uma vitória diplomática do Hamas porque, 46 dias depois de ter cometido um ato atroz, um crime contra a humanidade como foi 7 de outubro, não só consegue [a libertação] de 150 palestinianos - para já, só mulheres e crianças, mas possivelmente pode ser o dobro até 300 presos em prisões israelitas sejam libertados a troco disto -, e consegue uma pausa nos ataques israelitas. Portanto, [para já] há mais ganhos do Hamas do que propriamente do Governo de Israel”.

No que respeita a Israel, ontem, logo ao início de várias horas de reuniões do Governo israelita, Netanyahu passou esta ideia aos seus ministros: “esta paragem não vai fazer com que as operações israelitas parem, ou seja, logo a seguir a esta operação de quatro dias de libertação de 50 reféns vamos continuar a destruição do Hamas”.

“Isto está escrito no acordo: o direito do Governo israelita continuar a destruição do Hamas de modo a proteger os cidadãos israelitas, mas está também a obrigação do Governo de Israel de fazer com que os reféns, a partir do momento em que sejam libertados, sejam entregues às suas casas. Outro ponto que não está escrito, mas está sabido: há seis hospitais israelitas que a partir de hoje estão destacados para os receber, numa zona ao abrigo dos outros doentes e também dos media”.

Depois destes, à partida, quatro dias de pausa a guerra não termina, Israel já o disse, só vai acabar com o fim do Hamas.

"O que me parece é que só vai acabar numa altura em que o Governo de Israel - vamos ver se na altura ainda liderado por Netanyahu - esteja em condições de dizer à sua população: cumprimos os três objetivos. Primeiro objetivo: a capacidade militar do Hamas de atacar território israelita acabou; segundo objetivo: com isso, a segurança dos israelitas aumentou e terceiro objetivo: a vida dos reféns ficou a salvo.

Há um avanço nesse terceiro objetivo que é a decisão de libertação de perto de um quarto dos reféns, diz Germano Almeida.

Netanyahu e a coesão do governo israelita

Este acordo é visto como uma cedência de Netanyahu, criticada por membros do seu Governo.

"Na minha opinião, Netanyahu fica reforçado (…) Netanyahu sai com uma maioria significativa do seu Governo a apoiar este acordo, até a própria estrutura militar e os serviços secretos também apoiam

É um passo positivo, mas não definitivo, como explica Germano Almeida:

“Israel, ao contrário do Hamas que é um grupo terrorista (…) é uma sociedade democrática, tem regras e tem leis, e as 150 pessoas que vão ser libertas das cadeias israelitas, eventualmente mais é na sequência de uma decisão política com apoio da sociedade civil, mas há grupos de israelitas que, se calhar nas próximas horas, nos próximos dias, ameaçam recorrer ao Supremo Tribunal Israelita, dizendo que é ilegal uma decisão política passar acima de uma decisão judicial”.