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Astrónomos portugueses detetam exoplanetas que já deviam ter sido destruídos

Cientistas portugueses descobriram vários “júpiteres” e “júpiteres quentes” à volta de estrelas gigantes e em fim de vida onde não é comum encontrar planetas.

Ilustração de um “júpiter quente” em órbita de uma estrela gigante vermelha.
Ilustração de um “júpiter quente” em órbita de uma estrela gigante vermelha.

Dois artigos científicos recentes, liderados por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), relatam as descobertas de vários “júpiteres” à volta de estrelas gigantes e de massa intermédia em fim de vida, um tipo de estrela onde não é comum encontrar planetas, especialmente muito próximo delas.

Nos estudos, Elisa Delgado Mena e Filipe Pereira, revelam as descobertas de dois “júpiteres” e dois “júpiteres quentes" a orbitar estrelas gigantes e de massa intermédia onde normalmente não se encontram planetas uma vez que já teriam sido destruídos.

Um “júpiter quente” é um tipo de exoplaneta gigante gasoso, semelhante a Júpiter, mas que orbita a sua estrela a uma distância bastante inferior à que Mercúrio orbita o Sol. Pensa-se que estes exoplanetas se formam numa órbita mais longínqua e que mais tarde migram para próximo da estrela.

Na investigação liderada por Elisa Delgado Mena (do (IA e da Universidade do Porto) realizada ao longo de 17 anos com o espectrógrafo HARPS montado no Telescópio de 3,6 metros do ESO, é revelada a presença de dois planetas gigantes em enxames abertos jovens, que contêm muitas estrelas de massa intermédia na fase gigante onde estrelas de massa intermédia entram na fase gigante.

“Neste trabalho, a equipa analisou seis dessas estrelas, das quais quatro apresentavam sinais provocados por atividade estelar. No enxame aberto IC4651, à volta da estrela nº 9122, com 1,8 vezes a massa do Sol, deteram um planeta com 6,2 vezes a massa de Júpiter e com um período de 744 dias.

Já no enxame aberto NGC3680, na estrela nº41, com 1,64 vezes a massa do Sol, detetaram um exoplaneta com uma massa cerca de 5 vezes superior à de Júpiter, com um período orbital de 1155 dias. Por comparação, Marte tem um período orbital de 687 dias e Júpiter de 4333 dias”, explica o IA em comunicado.

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Dois "júpiteres quentes" orbitando estrelas gigantes vermelhas

No outro estudo liderado por Filipe Pereira (do IA e do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto), a equipa utilizou dados do observatório espacial TESS da NASA para identificar dois "júpiteres quentes" orbitando estrelas gigantes vermelhas.

"À volta da estrela TOI-4377 a equipa detetou um exoplaneta com 0,96 vezes o diâmetro e 1,35 vezes a massa de Júpiter, a orbitar em apenas 4,38 dias, a uma distância de apenas 0,058 unidades astronómicas da estrela.

Já à volta da estrela TOI-4551 a equipa detetou um exoplaneta com cerca de 1,06 vezes o diâmetro e 1,5 vezes a massa de Júpiter, que orbita a sua estrela em pouco menos de 10 dias e a uma distância de 0,1 unidades astronómicas.

Por comparação, Mercúrio demora 88 dias a orbitar o Sol, a uma distância média de 0,4 unidades astronómicas (ou 58 milhões de quilómetros)", explica o comunicado.

Estas descobertas vêm contrariar previsões anteriores de que estes planetas já teriam sido destruídos pelas suas estrelas gigantes.

Os novos dados sugerem que o processo ocorre mais tarde do que se pensava.

"Ao calcularmos modelos de estrutura interna dos planetas, percebemos que estes têm o seu diâmetro inchado devido à irradiação da estrela, que está muito próxima. Para além disso, este aumento do diâmetro planetário está a ocorrer de forma rápida, uma vez que o aumento do tamanho dos planetas já corresponde à atual irradiação a que estão sujeitos, a qual só aumentou recentemente, devido à estrela ter chegado à sua fase mais velha", explica Filipe Pereira.

A participação de Portugal na busca de exoplanetas

Como sublinha o IA, estas descobertas são muito importantes para compreender os mecanismos de formação e evolução de planetas e são possíveis graças à investigação em conjunto de estrelas e planetas “para conseguir caracterizar, de forma mais precisa, a relação entre a composição das estrelas-mãe e a presença e o tipo de exoplanetas em seu redor”.

O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço contribui para a investigação de exoplanetas em Portugal através de vários projetos que incluem a missão Cheops (ESA), já em órbita, o lançamento do telescópio espacial PLATO (ESA), a missão Ariel (ESA) e a instalação do espectrógrafo ANDES no maior telescópio da próxima geração, o ELT do ESO.