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Lula proclama como herói da pátria Abdias do Nascimento, um dos maiores ativistas negros do Brasil

O nome do conhecido ativista pelos direitos civis e humanos da população afro-brasileira foi incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, uma publicação de páginas de aço guardada no Panteão da Pátria, em Brasília.

Abdias do Nascimento.
Abdias do Nascimento.
Reprodução/Senado Federal Brasil

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, proclamou na terça-feira como "herói da pátria" o escritor, poeta, dramaturgo, ator, pintor e deputado Abdias do Nascimento, que até à sua morte, em 2011, foi considerado um dos maiores ativistas da causa negra no Brasil.

O nome do conhecido ativista pelos direitos civis e humanos da população afro-brasileira foi incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, uma publicação de páginas de aço guardada no Panteão da Pátria, em Brasília.

O respetivo decreto que o imortaliza foi publicado um dia depois de Lula da Silva também ter declarado heróis os Lanceiros Negros, unidade militar de escravos que lutou contra o Império brasileiro numa guerra promovida por republicanos separatistas entre 1835 e 1845.

Abdias foi candidato ao Prémio Nobel da Paz de 2010

Nascimento (1914-2011), um dos candidatos ao Prémio Nobel da Paz de 2010, foi fundador de entidades pioneiras da causa negra, como o Teatro Experimental do Negro, o Museu de Arte Negra e o Instituto de Estudos Afro-Brasileiros, além do Movimento Negro Unificado, e membro de movimentos internacionais como o Pan-Africanismo.

Segundo um comunicado da Presidência da República, o herói "teve uma importante trajetória na luta contra o racismo e a discriminação" no Brasil, um país com grandes desigualdades raciais, apesar de mais de metade da população se declarar afro-brasileira.

Neto de africanos escravizados, Nascimento foi professor de culturas africanas em universidades dos Estados Unidos, onde se exilou após o golpe militar de 1964.

O ativista, que foi consultor da Unesco, deputado e senador, está enterrado na Serra da Barriga, no Estado de Alagoas (nordeste), onde escravos fugitivos liderados por Zumbi - outro negro inscrito no Livro dos Heróis - fundaram a chamada República dos Palmares.

Em 1990, de acordo com a agência Brasil, Nascimento Abdias foi apresentado como o primeiro senador negro do Brasil, ao que respondeu: "será?", lendo depois uma extensa lista de políticos do passado que, apesar da cor da pele, não assumiram a identidade negra.

"Não constitui um escândalo que somente agora, 165 anos após a organização das instituições legislativas nacionais, um homem de ascendência africana consciente e orgulhoso dessa condição e representando os anseios dessa imensa população chegue ao Senado Federal?", questionou.