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Milhares de pessoas marcham contra a extrema direita na Alemanha

A mobilização deve-se ao choque causado pela revelação de uma reunião de extremistas em Potsdam, onde foi discutido um plano de expulsão em massa de estrangeiros. Martin Sellner apresentou um projeto para enviar de volta ao Norte de África até dois milhões de pessoas.

Milhares de pessoas marcham contra a extrema direita na Alemanha
ANNEGRET HILSE/AP

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se este domingo em Munique, no sul da Alemanha, contra o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e a sua ideologia radical, o que desencadeou uma mobilização de "rara escala".

Segundo a agência de notícias francesa AFP, a afluência foi tal em Munique que a marcha planeada nas ruas teve de ser interrompida.

Os organizadores disseram que 50 mil pessoas compareceram, o dobro do número previsto.

Outras estimativas colocam o número mais alto, até 200 mil pessoas.

A polícia, por sua vez, estimou a multidão em 100 mil pessoas, segundo o diário Sueddeutsche Zeitung.

Na marcha foram exibidos cartazes "Fora nazis" ou "Nunca mais, é agora".

Já no sábado, cerca de 250 mil pessoas reuniram-se por todo o país em dezenas de cidades, de acordo com estimativas do canal ARD.

No resto do país

Em Frankfurt, o centro das finanças alemãs, 35 mil pessoas marcharam para "defender a democracia".

Em Dresden, capital do estado da Saxónia, reduto do partido anti-migrante e anti-sistema Alternativa para a Alemanha (AfD), também foi organizada uma manifestação. Em Colónia, os organizadores estimaram a multidão em 70 mil pessoas, enquanto em Bremen, a polícia local contou 45 mil manifestantes.

As motivações

A mobilização testemunha o choque causado pela revelação, a 10 de janeiro, pelo meio de investigação alemão Correctiv, de uma reunião de extremistas em Potsdam, perto de Berlim, onde, em novembro, foi discutido um plano de expulsão em massa de estrangeiros.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, disse que esta reunião lembrava "a horrível Conferência de Wannsee", onde os nazis planearam o extermínio dos judeus europeus em 1942.

Entre os participantes estavam uma figura do movimento identitário radical, o austríaco Martin Sellner, e membros da AfD.

Martin Sellner apresentou um projeto para enviar de volta ao Norte de África até dois milhões de pessoas que requereram asilo, estrangeiros e cidadãos alemães que não seriam assimilados.

Esta revelação abalou a Alemanha, mas a AfD continua a avançar nas sondagens, poucos meses antes de três importantes eleições regionais no leste do país, onde as intenções de voto no partido de extrema-direita são ainda mais elevadas do que no resto do país.

O movimento anti-imigração confirmou a presença dos seus membros na reunião, mas negou ter aderido ao projeto de "remigração" liderado por Martin Sellner.

Muitos líderes políticos, incluindo o chanceler social-democrata Olaf Scholz, que participou numa manifestação no fim de semana passado, sublinharam que qualquer plano para expulsar pessoas de origem estrangeira é um ataque à democracia.

As manifestações anti-AfD assumiram uma "escala rara" durante a semana.

Desde sexta-feira foram agendados cerca de uma centena de comícios.

Políticos, representantes religiosos e treinadores da Bundesliga, o campeonato alemão de futebol, apelaram à população para se mobilizar contra este partido.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que os manifestantes "dão coragem a todos".

"Eles estão a defender a República e a nossa Constituição", disse, numa mensagem de vídeo.

A AfD tem aproveitado nos últimos meses o sentimento de insatisfação da população resultante de um novo afluxo de migrantes ao país e das disputas permanentes entre os três partidos da coligação governamental, num contexto de recessão económica e de inflação elevada.

O partido de extrema-direita, que entrou no parlamento em 2017, surge na segunda posição em intenções de voto (cerca de 22%), atrás dos conservadores, enquanto a coligação governamental de Olaf Scholz com os ecologistas e os liberais enfrenta uma impopularidade recorde.