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Julián, o porteiro de Valência que virou herói nacional: "Dediquei-me a mandar as pessoas descer"

A atuação de Julián, a quem muitos vizinhos abraçaram depois de se encontrarem em segurança, foi decisiva para que o número de feridos e mortos não aumentasse de forma abrupta.

Julián, o porteiro de Valência que virou herói nacional: "Dediquei-me a mandar as pessoas descer"
EVA MANEZ

Foram, até ao momento, confirmadas 10 mortes no incêndio que deflagrou esta quinta-feira num prédio em Valência, no leste de Espanha, mas poderiam ter sido mais se Julián, o porteiro do prédio, não tivesse avisado os habitantes, salvando-lhes a vida.

Em entrevista à rádio espanhola COPE, e citado pelo jornal El Mundo, o morador explicou como agiu assim que se apercebeu da existência de fumo no edifício.

“O fogo consumiu todo o prédio muito rapidamente e havia muita fumo. Foi muito rápido e o fogo espalhou-se muito rapidamente. Subi ao sétimo andar, porque havia fumo a sair dos halogéneos, mas depois o incêndio foi no 8.º andar”, contou.

Explica que, após ter sido dado o alarme, os bombeiros chegaram em poucos minutos, ainda assim foi nesse entretanto que teve a façanha de mandar toda a gente sair do prédio.

Julián foi, porta a porta, avisar o máximo número de habitantes deste prédio no Bairro de Campanar.

“Dediquei-me a mandar as pessoas descer”, disse.

Foi com a chegada dos bombeiros que terminou a sua atuação que muitos descrevem como heroica, pois, segundo Julián, com a chegada das equipas de socorro: “Não me deixaram mais subir".

Questionado como se sente, agora que está a ser apelidado de herói de Campanar, Julián foi breve nas palavras.

“Fi-lo de coração. O que queria era ajudá-los e o que aconteceu foi tão grande e tão forte, mãe de Deus”, disse.

Para já, o bom Julián prefere manter-se afastado das luzes da ribalta, como um herói anónimo, uma vez que os vizinhos ainda estão em estado de choque com o sucedido.

Testemunhas dos vizinhos sobre o incêndio

Outros moradores do prédio contaram ao El País que saíram de casa apenas com a roupa que tinha, tendo em conta a pressa de fugir. Até as documentações foram esquecidas dado que o fogo se propagou "muito rapidamente, numa questão de minutos".

Vicente, um dos moradores do prédio afetado pelo incêndio, contou à imprensa o que viveu.

"Foi tudo muito rápido. Há famílias inteiras que saíram com o que tinham vestido. Numa questão de 15 ou 20 minutos todo o edifício foi engolido, todos pensámos que por causa da fachada, constituída por um material que absorve muito e que, juntamente com o vento, ardeu como uma falha em Valência", afirmou.

Acrescentou ainda que passou a última noite em casa da irmã: “Estamos cada um onde podemos”.

Também Miguel, outro morador no primeiro andar do edifício, já há sete anos, explica que os moradores começaram a sair quando detetaram o cheiro a fumo.

“No início os bombeiros acreditaram que iam conseguir apagar o fogo, porque era um sétimo andar, mas o ar que soprava era imparável”, conclui.