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Presidenciais na Rússia: "De eleições democráticas, só tiveram o nome"

Germano Almeida, comentador da SIC, analisa a atualidade internacional, com destaque para as eleições presidenciais na Rússia e as declarações do reeleito Vladimir Putin, no discurso de vitória.

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O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, reeleito para mais seis anos no Kremlin, advertiu que a Rússia não se vai deixar intimidar pelos adversários. Num discurso transmitido pela televisão após a confirmação da vitória, este domingo, Putin disse ter concordado com uma troca de prisioneiros com os países ocidentais, incluindo Alexei Navalny, antes da sua morte na prisão em fevereiro. Um cessar-fogo na Ucrânia durante os Jogos Olímpicos foi também abordado pelo Presidente russo. Germano Almeida considera que a abordagem destes dois temas no discurso de vitória, evidencia “o lado perverso de Putin”.

"O facto de mencionar Navalny e o que contou ao dizer que foi uma pena porque estava perto de haver uma troca de prisioneiros, mostra o lado perverso de Putin no momento da vitória. Obviamente que no momento em que ganha, como nunca ganhou com uma vantagem tão grande, o que mostra é que me Putin não facilita e elimine os seus potenciais adversários e rivais. Navalny, como sabemos, era o principal.

Relativamente à possibilidade de cessar-fogo durante os Jogos Olímpicos que vão decorrer em Paris, uma hipótese levantada por Emmanuel Macron, Vladimir Putin disse que os interesses russos teriam que ser tidos em conta.


“Mais uma vez, também é um lado perverso de Putin, porque Putin acaba por aproveitar a deixa de Macron ao falar em cessar-fogo (…) A quem interessa neste momento falar em cessar-fogo, quando a Rússia está em vantagem, é à Rússia e não à Ucrânia, mesmo sendo um cessar-fogo absolutamente momentâneo e provisório relativamente à questão dos Jogos Olímpicos. Por outro lado, recordo que o único momento de algum tipo de cessar-fogo foi na Páscoa de 2022 e não foi respeitado pela Rússia. Portanto, quando a Rússia fala em cessar-fogo, nunca é para levar a sério”, lembra Germano Almeida.

No que diz respeito a estes seis anos de mandato até 2030, “a força de Putin e o tipo de regime ditatorial de Putin está a agravar porque olhamos para os resultados, ele ganha com 88%, há 6 anos foi com 77%, há 12 anos foi com 63%, ou seja, a percentagem de votos em Putin está sempre a subir".

"O primeiro em 2000 foi de 53%, a diferença para o candidato comunista há 24 anos foi de 24 pontos. Ontem, foi de 83 pontos. De eleições democráticas só tiveram o nome", sublinha o comentador da SIC.

Sobre a cúpula do Kremlin e sobre quem são os principais apoiantes de Vladimir Putin em toda esta ideologia, Germano Almeida explica que “a Rússia é uma autocracia personalista, ou seja, totalmente centrada na figura de Putin. A elite pequena que está à volta do ditador, são pessoas que têm uma total fidelidade ao líder”.

Putin está cada vez mais reservado, mesmo na altura do voto, utilizou o voto eletrónico, nem aí se mostrou à população, o que revela que “está cada vez mais distante da população, tem cada vez menos necessidade de servir a população (…) Putin usou as eleições de ontem para justificar a sua ação bélica, a guerra, e para mostrar para fora que a guerra está a reforçar o seu poder interno, e infelizmente está”, destaca Germano Almeida.

Médio Oriente: “Netanyahu estará finalmente a ceder às pressões americanas e alemãs”

Em relação ao conflito no Médio Oriente, o comentador da SIC diz que “a boa notícia é que com a delegação israelita em Doah, no Qatar, não caiu a possibilidade de acordo. A má notícia é que não se vê como é que ele possa, na verdade, ser consumado, porque as posições mantêm-se, aliás, foi um fim de semana muito preocupante e sangrento, mais uma vez, com as forças israelitas supostamente tomarem o Hospital Al-Shifa".

Germano Almeida acrescenta ainda que “a boa notícia também é que Nathaniel, pressionado, não só pelos Estados Unidos, Reino Unido, também pela Alemanha, terá dito ontem ao chanceler alemão, de visita a Telavive, que enquanto os cidadãos palestinianos estiverem encurralados em Rafah não fará operação terrestre. Isto indica que Netanyahu estará finalmente a ceder às pressões americanas e alemãs”.