Os governos alemão e francês consideraram "inaceitáveis" os protestos de apelo à proibição da participação de Israel no 68.º Festival Eurovisão da Canção e ao boicote do concurso por parte de outros países.
A edição deste ano do concurso, a decorrer em Malmö, na Suécia, na qual participam representantes de 37 países e cuja final é disputada no sábado, está a ser marcada pelo conflito israelo-palestiniano.
Na sexta-feira, a ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, classificou de "inaceitáveis" os protestos e apelos ao boicote da participação de Israel na final do concurso - para a qual foram selecionados representantes de 26 países, numa publicação partilhada nas redes sociais.
A governante considerou "aterrorizante" o reforço anunciado das medidas de segurança na Suécia, para proteger os cidadãos israelitas e os judeus em geral.
"O antissemitismo, o ódio e a violência não têm lugar num evento musical tão importante", lê-se ainda na publicação.
Também o ministro francês dos Assuntos Europeus, Jean-Nöel Barrot, considera "inaceitável" a "pressão sobre os artistas" nos apelos a um boicote a Israel na final do Festival Eurovisão da Canção.
"Numa altura em que a liberdade criativa está ameaçada em todo o mundo, a Europa deve continuar a defender, em alto e bom som, este princípio essencial da democracia", defendeu, numa entrevista ao jornal Liberation, publicada na sexta-feira e citada pela Agência France Presse.
Recordando que "a política não tem lugar na Eurovisão", o governante disse que, "no caso particular da Eurovisão, as pressões são contrárias ao espírito do concurso, cujo lema é 'Unidos pela música', e que pretende reunir os povos da Europa, e não só, em torno da criação artística". Algo que "deve permanecer no coração da competição."
Jean-Nöel Barrot defendeu que o Festival Eurovisão da Canção "desempenha um papel importante no reforço permanente do sentimento de pertença a uma cultura comum", considerando que "permite aproximar os europeus através da música, ultrapassando as barreiras linguísticas (...) e [fazê-los] descobrir o melhor da cultura europeia".
"É um bem precioso que deve ser preservado", disse.
Desde que se soube que Israel iria participar no concurso, representado por Eden Golan, vários apelos foram feitos por representantes políticos e artistas europeus à EBU para que a participação do país no concurso fosse vetada. Quando a representante israelita esteve em palco durante a segunda semifinal do concurso, ouviram-se assobios, nomeadamente na parte inicial da atuação.
Entre os vários apelos, no final de março, representantes de nove países, incluindo Portugal, assinaram uma carta na qual pediam um "cessar-fogo imediato e duradouro" na guerra na Palestina e o regresso de todos os reféns israelitas.
Na altura, a EBU recordou que o festival é um evento "apolítico". No entanto, em 2022 foi decidida a expulsão da Rússia do concurso na sequência da invasão da Ucrânia.
No dia em que decorreu a segunda semifinal, na qual Israel competia, milhares de pessoas percorreram as ruas de Malmö a pedir a expulsão do país do concurso, num protesto convocado pela plataforma Parem Israel, pela paz e por Palestina livre, que agrupa mais de 60 organizações.
A emissora de televisão belga VRT, uma das duas que organiza a participação daquele país no concurso, interrompeu temporariamente a emissão na quinta-feira, durante a atuação de Eden Golan, condenando "as violações do estado de Israel em Gaza".
"Israel está a destruir a liberdade de imprensa. Por isso interrompermos temporariamente a emissão", lia-se num comunicado que foi exibido durante a semifinal e citado pela agência EuropaPress.