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Influenciadores norte-americanos acusados de promover desinformação sobre a pílula anticoncepcional

Há influenciadores no Instagram e TikTok a pressionar as seguidoras para que deixem de tomar a pílula. Em várias publicações alegam que este contracetivo contribui para a infertilidade, alterações no comportamento sexual e que interfere com a "atração sexual". Os especialistas alertam para as consequências destes vídeos.

Influenciadores norte-americanos acusados de promover desinformação sobre a pílula anticoncepcional
Patricio Nahuelhual // GETTY IMAGES

Enquanto se assumem como "influenciadores do bem-estar" recorrem ao Instagram e Tik Tok para promover a desinformação sobre os efeitos secundários provocados pela toma da pilula anticoncepcional e pressionam as suas seguidoras a deixar de o fazer.

Sem qualquer tipo de prova que sustente as suas afirmações, alegam que este método contraceptivo é responsável por problemas de infertilidade, alterações no comportamento sexual e ainda pode influenciar por quem "cada pessoa se sente sexualmente atraído".

A polémica está a acontecer nos Estados Unidos, num momento em que as questões do aborto e da contracepção estão no centro da campanha presidencial que coloca o democrata Joe Biden contra o republicano Donald Trump. O antigo Presidente do Estados Unidos esteve por detrás de inúmeras restrições e até proibições ao direito ao aborto no país.

Um dos principais nomes associados a esta polémica é Candace Owens, uma jovem influenciadora com quase 200 mil seguidores no Tik Tok, que se refere à pílula como algo "tóxico" e disponibiliza na sua página um curso sobre controle de natalidade “natural”.

Já o “life coachNaftali Moses defendeu durante uma entrevista que a pílula “muda o comportamento sexual”, "altera a forma como o cérebro pensa" e que as mulheres passam a preferir "homens com características mais femininas" em vez de homens que mostrem "sinais de dominância".

Durante um podcast, Sahara Rose referiu-se à pílula como "a pílula do divórcio" e como as mulheres quando param de tomar este método contraceptivo sentem a necessidade de "trocar de parceiro" por já não se sentirem atraídas sexualmente.

Desinformação preocupa investigadores

O aumento destes vídeos, que promovem a desinformação e influenciam as mulheres a deixarem de tomar métodos contracetivos, está a preocupar os investigadores.

Em declarações à AFP, um dos membros do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas alertou para esses perigos e afirmou ter tratado pacientes que engravidaram após evitarem métodos contracetivos devido à “desinformação prejudicial” que ouviram ou viram online.

“A desinformação pode dissuadir as pessoas de usar métodos anticoncecionais que poderiam ajudá-las com a contraceção. O mais preocupante neste cenário político que temos atualmente nos Estados Unidos é que a desinformação sobre o controlo da natalidade pode levar as pessoas a engravidar e agora [elas] podem não ter acesso ao aborto", disse Michael A. Belmonte.

Estes investigadores relembram que não há nenhuma evidência causal direta de que as pílulas anticoncecionais levem à infertilidade generalizada ou à alteração da atração e do comportamento sexual. Quanto à correlação entre o uso da pílula e da libido, é um tema que tem sido debatido há vários anos face aos testemunhos de várias mulheres que afirmam ter sentido impacto no seu desejo sexual.

Especialistas em saúde dizem que a pilula é segura e pode ter efeitos secundários como qualquer outro medicamento. Neste seguimento, os mesmos defendem que não existem evidências médicas que comprovem que a pílula contribua para o aumento de peso como defendem algumas influenciadoras em vídeos de "antes e depois" em que promovem a abolição da pílula para quem quer emagrecer.

“As pessoas não percebem que muitos destes influenciadores têm os seus próprios incentivos financeiros para promover narrativas falsas ou enganosas que também não dão prioridade à saúde das pessoas que visam”, acrescentou a investigadora sobre desinformação Jenna Sherman, à AFP.