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Cabo Verde reitera condenação à Rússia face a interesses divergentes na CPLP

A condenação de Cabo Verde surge depois de São Tomé e Príncipe ter assinado um acordo de cooperação técnico militar com a Rússia e a Guiné-Bissau ter garantido a Vladimir Putin que podia contar com o país "como aliado permanente".

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O primeiro-ministro cabo-verdiano reiterou a condenação à invasão russa da Ucrânia e considerou "ideal" que a CPLP pudesse ter uma posição, mas admitiu que essa não é a missão da comunidade e pode haver interesses divergentes.

"O nosso posicionamento foi muito claro e reiteramos: nós condenamos a invasão da Rússia à Ucrânia", refletida em votações nas Nações Unidas, e Cabo Verde tem "parcerias muito fortes" que faz questão de manter, disse Ulisses Correia e Silva, num encontro com órgãos de comunicação social no Mindelo, ilha de São Vicente, na segunda-feira, para balanço de três anos do segundo mandato de governação.

"A CPLP é uma comunidade de países de língua portuguesa, não tem como objetivo definir a concertação única relativamente a relações externas. O ideal era que, de facto, pudesse haver um posicionamento que pudesse refletir a posição da CPLP, mas não é essa a [sua] natureza e missão: são países livres e independentes", referiu.

A comunidade integra estados "com interesses políticos que às vezes são convergentes e outras vezes divergentes", acrescentou.

Alinhando-se com os aliados de Kiev, o líder do Governo classificou a parceria de Cabo Verde com a União Europeia (UE) como "estruturante" em matérias sociais, económicas e também de defesa e segurança, além da forte diáspora em solo europeu.

Da mesma forma, classificou como "muito forte" a ligação com os Estados Unidos da América, país onde o arquipélago tem também uma grande diáspora e com o qual tem "valores partilhados".

"A integração com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)" rege-se "pelos mesmo princípios", acrescentou. "As nossas opções são claras, as nossas ações são consistentes", concluiu.

Rússia de olho nos países da CPLP? Há um acordo a gerar preocupação

Portugal manifestou a São Tomé e Príncipe "estranheza" e "apreensão" pelo acordo de cooperação técnico militar assinado com a Rússia, revelou, na quinta-feira à noite, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel.

O secretário executivo da CPLP afirmou, também na quinta-feira, que "não há dramas" sobre o assunto, enquanto o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou importante "salvaguardar a unidade da CPLP", recordando que "quando começou a invasão pela Federação Russa da Ucrânia [em 2022] houve votações nas Nações Unidas e nalgumas das votações a CPLP dividiu-se, e dividiu-se muito".

A notícia do acordo com São Tomé e Príncipe surgiu a par de uma visita do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, à Rússia, durante a qual o chefe de Estado guineense garantiu ao homólogo russo, Vladimir Putin, que pode contar com a Guiné-Bissau "como aliado permanente".

Embaló disse na segunda-feira ter "mais de 100 oficiais militares em formação na Rússia", tendo pedido formação também para as forças especiais guineenses.