Mundo

Análise

Uso de armamento ocidental: "O mais importante para a Ucrânia é conseguir atingir alvos militares em território russo"

Vitaliy Venislavskyy, especialista em História Militar, analisa os últimos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia, com destaque para o uso de armas ocidentais contra a Rússia e as expectativas relativas à Conferência de Paz promovida pelo Presidente ucraniano.

Loading...

A Rússia avisa os Estados Unidos que autorizar a Ucrânia a usar armas norte-americanas em território russo pode ter consequências fatais. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo garante que as tentativas de ataques da Ucrânia a alvos de Moscovo não serão bem sucedidas. A Rússia volta a acusar o Ocidente de alimentar o conflito. Avisa ainda que o uso de sistemas de defesa aérea em território russo vai contribuir para o escalar da guerra e garante que vai agir perante qualquer ameaça. Para Vitaliy Venislavskyy, "a Rússia está a estabelecer linhas vermelhas, pelo menos em termos de retórica". O especialista em História Militar analisa também as expectativas relativas à Conferência de Paz promovida pelo Presidente ucraniano.

"Esta Conferência de Paz é um delinear de uma estratégia de implementação de 10 pontos da paz, que é, no fundo, a pedra angular da diplomacia ucraniana. O objetivo desta desta conferência é criar uma estratégia global no sentido de impedir países que queiram simplesmente ir contra o Direito Internacional, como a Rússia tem estado a fazer, de forma a poderem atingir os seus objetivos políticos, portanto, é óbvio que a Rússia, não estando preparada neste momento ou impondo condições e imensuráveis para participar nesta conferência de paz, ela não iria criar nenhum consenso", explica Vitaliy Venislavskyy.

A presença da Rússia não será, por isso, desejável, nem para a Ucrânia, nem para os parceiros que estarão presentes nesta conferência.

Influência do uso de armas de longo alcance na evolução do conflito

O facto de a Ucrânia poder começar a utilizar armas de longo alcance para atacar território russo poderá ter impacto no terreno. No entender do especialista em História Militar, "é muito difícil neste momento dizer que vai alterar completamente o seguimento das operações militares no terreno, mas começar e conseguir atingir alvos russos em território russo, nem que seja muito perto da fronteira, já vai obrigar as tropas russas a terem de se reagrupar no seu território. O mais importante, ainda assim, para a Ucrânia, é conseguir atingir alvos militares russos em território da Federação Russa, que estão um pouco mais longe da fronteira. Estamos a falar de um alcance de cerca de 200 a 300 quilómetros".

Para conseguir alcançar certos alvos, a Ucrânia teria de utilizar armas de longo alcance e, para isso, precisava de autorização por parte dos Estados Unidos ou de outros países do Ocidente. Existe o receio de que o uso desse tipo de armamento possa levar a uma natural escalada do conflito e desencadear a intervenção russa noutros territórios. Vitaliy Venislavskyy considera que só o tempo dirá qual será a evolução e a reação de Moscovo.

"Ainda não sabemos bem onde é que estão essas linhas vermelhas porque a Federação Russa, desde o início da guerra, tem conseguido gerir o conflito de forma um pouco diferente daquela que o Ocidente a tem gerido. O Ocidente desenhou imediatamente linhas vermelhas para a atividade russa, enquanto que a Rússia foi sempre colocando linhas vermelhas artificiais."

"Lembremo-nos ainda de fevereiro, março de 2022, quando a Rússia disse que qualquer ajuda militar do Ocidente ia levar uma escalada. O Ocidente começou por dar armas antitanque e não houve escalada nenhuma, depois quando eram para vir os primeiros Leopards [tanques] também, a Rússia prometeu uma escalada e não houve".

O especialista em História Militar explica que a "Ucrânia já tem atacado território russo há há bastante tempo (...) é verdade que uma barragem de mísseis a atingir bases aéreas russas por toda a linha da frente poderia ser uma potencial escalada, mas neste caso, acho que o Ocidente e também a Ucrânia têm tido o cuidado de ir testando, pouco a pouco, as tais linhas vermelhas que, às vezes são artificiais, e que a Rússia coloca".