O ex-presidente norte-americano Donald Trump descreveu ao pormenor, perante uma multidão emocionada, a tentativa de assassínio de que foi alvo no sábado, prestando também homenagem ao antigo bombeiro morto no ataque.
Donald Trump dirigiu-se aos milhares de apoiantes que o receberam como um herói na Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, para descrever o que sentiu no ataque de sábado, mas sublinhou que nunca mais contará esta história por ser "muito dolorosa".
No relato, cinco dias após o ataque, Trump começou por descrever aquele que era "um dia quente e lindo" em que "todos estavam felizes".
“Havia sangue a jorrar por todo o lado”
"Ouvi um som alto de zumbido e senti algo a atingir-me, muito, muito forte, na minha orelha direita. Eu disse a mim mesmo: 'Uau, o que foi isso? Só pode ser uma bala'", contou, perante uma multidão que ficou silêncio para o ouvir.
"Havia sangue a jorrar por todo o lado mas, de certa forma, eu senti-me muito seguro porque tinha Deus do meu lado", afirmou o magnata, com imagens do momento do ataque a serem projetadas atrás de si, no palco.
Várias pessoas choravam ao ouvir o relato do ex-presidente, que ficou ferido numa orelha após ser alvejado por um jovem de 20 anos, abatido pelas forças de segurança norte-americanas.
"Não era suposto eu estar aqui esta noite", refletiu, com os apoiantes a gritarem: "Sim, está!".
Trump pediu à plateia que fizesse um momento de silêncio para Corey Comperatore, o antigo bombeiro voluntário que assistia ao comício do ex-presidente e que acabou por morrer depois de ser baleado pelo atirador.
O fato e o capacete do bombeiro assassinado foram colocados no palco enquanto Trump falava. Durante o minuto de silêncio, o magnata caminhou até ao uniforme e beijou o capacete da vítima mortal do ataque de sábado.
No discurso, o ex-presidente mostrou o mesmo gráfico de imigração para o qual tentava olhar quando foi baleado durante o comício no sábado.
Trump aceita nomeação republicana para ultrapassar "discórdia e divisão" nos EUA
Donald Trump defendeu que a "discórdia e a divisão" na sociedade norte-americana "devem ser curadas", ao aceitar formalmente a nomeação como candidato presidencial Partido Republicano. O ex-presidente delineou a visão para o país.
"Estou diante de vós esta noite com uma mensagem de confiança, força e esperança. Daqui a quatro meses, teremos uma vitória incrível e começaremos os quatro maiores anos da história do nosso país", disse.
"Juntos, lançaremos uma nova era de segurança, prosperidade e liberdade para cidadãos de todas as raças, religiões, cores e credos. A discórdia e a divisão na nossa sociedade devem ser curadas. Como americanos, estamos unidos por um único destino e um destino partilhado. Nós erguemo-nos juntos ou caímos", acrescentou.
O magnata garantiu estar a concorrer para ser "Presidente de toda a América, não de metade da América, porque não há vitória em vencer para metade da América".
"Então, esta noite, com fé e devoção, aceito com orgulho a nomeação para Presidente dos Estados Unidos", confirmou o antigo chefe de Estado.
Conhecido pela retórica incendiária, o político começou num tom suave e profundamente pessoal, mas evoluiu para um tom mais agressivo, a repetir várias falsas alegações, como as de que Biden quer quadruplicar os impostos, "terroristas estão a chegar em números que nunca antes vistos" pela fronteira ou a taxa de criminalidade está a aumentar no país. Afirmações rapidamente contestadas por uma verificação de factos da estação de televisão CNN.
Trump pediu aos democratas que parem de "transformar o sistema de justiça numa arma" e reclamou das "caças às bruxas partidárias", argumento que usa com frequência para justificar os quatro processos criminais de que é alvo.
O republicano, que lidera as sondagens para regressar à Casa Branca numa disputa com Biden, prometeu também concluir a construção do muro anti-imigrantes na fronteira dos EUA com o México, um dos grandes projetos do primeiro mandato e também um dos mais polémicos.
"Vou acabar com a crise da imigração ilegal, fechando a nossa fronteira e acabando o muro", assegurou.
O ex-presidente descreveu os EUA sob o atual Governo democrata como "uma nação em declínio", com "uma invasão maciça na fronteira sul" e à beira da Terceira Guerra Mundial.
"Temos que impedir a invasão do nosso país que está a matar centenas de milhares de pessoas por ano", afirmou.
Trump disse que os EUA têm uma "liderança incompetente" e "a crise inflacionária está a tornar a vida inacessível".
“Posso acabar com guerras com um telefonema”
Em relação à política externa, Trump também reiterou as alegações de que as duas guerras atualmente travadas na Europa e no Médio Oriente "nunca teriam acontecido" se fosse Presidente, mas sem especificar o que faria para terminar qualquer um desses conflitos.
Trump e o candidato a vice-presidente, J. D. Vance, têm uma posição isolacionista e propuseram limitar ou cortar completamente a ajuda norte-americana a países estrangeiros, como à Ucrânia.
"Um espetro crescente de conflito paira sobre Taiwan, Coreia, Filipinas e toda a Ásia. E esta será uma guerra como nenhuma outra por causa do armamento", avaliou.
O magnata destacou então a relação de proximidade que mantém com o líder norte-coreano, Kim Jong-un: "É bom dar-se bem com alguém que tem muitas armas nucleares".
Promessas para um segundo mandato
O ex-presidente expôs ainda as promessas para um segundo mandato, incluindo a redução do custo de alimentos e gasolina, mais empregos e a segurança da fronteira.
O candidato republicano prometeu ainda construir um sistema de defesa nos Estados Unidos semelhante ao que é utilizado por Israel para intercetar ataques aéreos.
"Vamos construir um sistema de defesa antimísseis em cúpula de ferro para garantir que nenhum inimigo possa atacar a nossa pátria", garantiu.
O discurso de Trump, ao longo de cerca de uma hora e meia, encerrou uma grande manifestação de apoio republicano ao longo de quatro dias de Convenção, que atraiu milhares de eleitores conservadores, celebridades e políticos influentes do Partido Republicano.
No final da intervenção, Melania Trump juntou-se ao magnata no palco, numa rara presença pública da ex-primeira-dama desde que deixou a Casa Branca, em 2021.
Com Lusa