A Suíça e a Itália vão cooperar de forma a criar "as melhores condições possíveis" para a realização de uma segunda cimeira de paz para a Ucrânia que envolva também a Rússia, anunciaram esta segunda-feira os respetivos chefes de diplomacia.
O anúncio deste esforço conjunto com vista à celebração de uma nova conferência para a paz, após aquela realizada há cerca de dois meses nos arredores de Lucerna, Suíça, foi feito através de uma declaração conjunta dos ministros dos Negócios Estrangeiros suíço, Ignazio Cassis, e italiano, Antonio Tajani, no final de uma reunião bilateral na localidade helvética de Locarno, por ocasião do Dia da Diplomacia, celebrado à margem do festival de cinema daquela cidade.
"Conscientes das repercussões globais do conflito na Ucrânia, a Itália e a Suíça continuam empenhadas em implementar todas as medidas necessárias para construir uma via diplomática para uma paz justa, abrangente e duradoura", referiu a declaração assinada por Cassis e Tajani.
No mesmo texto, os dois ministros indicaram que "acordaram em manter-se em estreito contacto para cooperar na criação das melhores condições possíveis para uma segunda cimeira de paz que envolva todas as partes, incluindo a Rússia, e todos os intervenientes mundiais relevantes".
"Acreditando que a consecução da paz exige o envolvimento e o diálogo entre todas as partes", Suíça e Itália, segundo prosseguiu o comunicado, "convidam todos os intervenientes internacionais envolvidos a não pouparem esforços no sentido de estabelecer uma plataforma de negociação partilhada, baseada no respeito pelo direito internacional e pela integridade territorial e soberania de todos os Estados, tal como consagrado na Carta das Nações Unidas, tendo igualmente em conta as propostas apresentadas até à data por várias partes para pôr termo ao conflito".
Os dois ministros lembraram a realização, a 16 de junho passado, da (primeira) cimeira internacional para a paz na Ucrânia, na localidade suíça de Bürgenstock, nos arredores de Lucerna, onde, recordaram, "todas as partes envolvidas no conflito foram fortemente instadas a garantir a segurança nuclear, colocada em grande risco pelas operações militares em curso [junto à central nuclear de Zaporijia], bem como a segurança alimentar, e a proceder sem demora à libertação de todos os prisioneiros de guerra, bem como dos menores e civis ucranianos deportados".
Na conferência celebrada há sensivelmente dois meses em Bürgenstock, organizada pela Suíça, participaram cerca de uma centena de países e organizações -- tendo Portugal estado representado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo chefe da diplomacia, Paulo Rangel -, mas não marcaram presença a Rússia, nem outros atores relevantes, que consideravam indispensável a participação de Moscovo, caso da China.
"A Itália, por seu lado, está a preparar-se para acolher a conferência de recuperação da Ucrânia em 2025, a quarta de uma série de eventos que começaram no Ticino - em Lugano - e continuaram em Londres e Berlim", acrescentou a declaração conjunta, na qual Roma reiterou que assume "este compromisso crucial para a fase pós-conflito e para dar ao país esperança no futuro".
No documento, os chefes de diplomacia da Suíça e Itália voltaram ainda a "manifestar a sua profunda preocupação com a agressão em curso da Federação Russa contra a Ucrânia, que continua a produzir destruição maciça e imenso sofrimento", apontando que "o conflito já provocou consequências sociais e humanitárias muito graves, bem como danos permanentes nas infraestruturas civis".
Esta segunda-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que deixou de fazer sentido manter conversações com a liderança de Kiev na sequência da recente incursão militar ucraniana na região fronteiriça russa de Kursk e prometeu uma "resposta firme".
No decurso de uma reunião especial sobre a situação nas zonas fronteiriças e transmitida pela televisão estatal, Putin também considerou que outros dos objetivos da operação militar ucraniana consiste em melhorar as posições de Kiev em eventuais negociações de paz.
"Torna-se agora claro que o regime e Kiev recusaram as nossas propostas para o regresso a um plano de acordo pacífico", disse Putin, de acordo com o qual não faz sentido manter conservações com um Governo "que ataca civis".