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Correspondente SIC

"Como é que me pudeste trair a este ponto?" Gisèle Pelicot confrontou ex-marido em tribunal

Gisèle Pelicot, a mulher que se tornou um símbolo contra a violência sexual no país, foi ouvida em tribunal. Depois de, durante quase uma década, ter sido violada inconsciente pelo marido e por dezenas de homens, confrontou, nesta quarta-feira, numa audiência, os acusados.

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À saída do tribunal de Avignon, esta quarta-feira, ouviram-se aplausos de pessoas que foram dar apoio a Gisèle Pelicot. A vítima tinha acabado de sair da sala de audiência, onde depôs pela primeira vez na presença do ex-marido, Dominique Pelicot, para quem, no entanto, não conseguiu olhar.

"50 anos em conjunto. Eu era uma mulher feliz e realizada. Tivemos três filhos, sete netos. Eras para mim um homem de bem, atencioso, nunca duvidei da tua confiança", disse, em tribunal, Gisèle Pelicot.

O ex-marido já admitiu, durante o julgamento, que começou em setembro, ser um violador, que drogou a mulher e a filmou a ser abusada por dezenas de homens que recrutou na internet, durante quase 10 anos, entre 2011 e 2020.

Gisèle, hoje com 71 anos, só gostaria de ter a resposta a uma pergunta:

"Como é que me pudeste trair a este ponto? Trazer estes estranhos para o nosso quarto? Para mim, esta traição é inexplicável".

50 homens, com idades entre os 26 e 73 anos, estão agora a ser julgados. Desde engenheiros a enfermeiros, de desempregados a um militar. O arguido mais novo terá faltado ao nascimento da própria filha para, nessa noite, ir violar Gisèle Pelicot. Vários dos alegados violadores garantem que não sabiam que a mulher era drogada pelo ex-marido.

Houve já mulheres a vir defender os acusados, desde mães, irmãs ou esposas, que dizem que os arguidos eram homens excecionais. Gisèle Pelicot quis deixar um alerta:

"Eu também tinha um homem excecional. Um violador não é um homem que encontramos no parque de estacionamento ao final da tarde. O violador pode estar na nossa familiar".

Gisèle Pelicot garante querer mudar mentalidades. Daí ter escolhido que o julgamento deste caso, que decorre até dezembro, seja à porta aberta, para que, diz, "as vítimas de abusos deixem de ter vergonha".