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Estudante encontra acidentalmente cidade Maia numa floresta no México

Não se conhecem imagens da cidade perdida porque “nunca ninguém lá esteve”, afirmam os investigadores, embora a população local possa ter suspeitado da existência de ruínas sob os montes de terra.

Estudante encontra acidentalmente cidade Maia numa floresta no México
Philip Dumas/Getty Images

Um estudante de doutoramento da Universidade de Tulane, nos Estados Unidos, descobriu acidentalmente uma cidade Maia, séculos depois desta ter desaparecido sob as copas das árvores no México.

De acordo com a BBC, Luke Auld-Thomas estava na página 16 da pesquisa do Google e encontrou “um estudo a laser feito por uma organização mexicana para monitorização ambiental”.

Tratava-se de um estudo LIDAR, uma técnica de deteção remota que dispara milhares de impulsos laser a partir de um avião e mapeia os objetos que se encontram por baixo utilizando o tempo que o sinal demora a regressar.

Quando Auld-Thomas processou os dados com métodos empregues por arqueólogos, utilizando o LIDAR para mapear estruturas enterradas sob a vegetação, viu o que outros não tinham visto - uma cidade antiga com grandes proporções que pode ter albergado 30-50 000 pessoas no seu auge, entre 750 e 850 d.C., número superior ao das pessoas que vivem atualmente na região, afirmam os investigadores.

O estudante e os seus colegas deram à cidade o nome de Valeriana, em homenagem a uma lagoa próxima.

Como seria a cidade?

Os arqueólogos acreditam que existissem pirâmides, campos desportivos, vias de comunicação entre bairros e anfiteatros na cidade perdida, situada no estado de Campeche, no sudeste do país.

Valeriana tem as “características de uma capital” e, em termos de densidade de edifícios, só fica atrás de Calakmul, a cerca de 100 km de distância, que se pensa ser o maior complexo Maia da antiga América Latina. Está “escondida à vista de todos”, dizem os arqueólogos, pois fica apenas a 15 minutos a pé de uma estrada principal perto de Xpujil, onde atualmente vive a maioria da população maia.

A cidade, com cerca de 16,6 km2, teria dois grandes centros com grandes edifícios separados por cerca de 2 km, ligados por casas densas e caminhos. Calcula-se que tivesse ainda duas praças com pirâmides de templos, onde os Maias prestavam culto, escondiam tesouros como máscaras de jade e enterravam os seus mortos.

Não se conhecem imagens da cidade perdida porque “nunca ninguém lá esteve”, afirmam os investigadores, embora a população local possa ter suspeitado da existência de ruínas sob os montes de terra.

Também tinha um campo onde as pessoas teriam jogado um antigo jogo de bola. Há também indícios de um reservatório, indicando que as pessoas utilizavam a paisagem para sustentar uma grande população.

Não se sabe ao certo o que levou ao desaparecimento e eventual abandono da cidade, mas os arqueólogos dizem que as alterações climáticas foram um fator importante.

No total, Auld-Thomas e o professor Marcello Canuto, coautor da investigação, pesquisaram três locais diferentes na selva, que têm o tamanho da capital da Escócia, Edimburgo, descobertos “por acaso”. Encontraram 6.764 edifícios de vários tamanhos.

O que sugere a investigação?

A investigação sugere que o colapso das civilizações Maias a partir de 800 d.C. se deveu, em parte, ao facto de terem sido densamente povoadas e não terem conseguido sobreviver aos problemas climáticos.

“Sugere-se que a paisagem estava completamente cheia de pessoas no início das condições de seca e que não lhe restava muita flexibilidade. Por isso, talvez todo o sistema se tenha desintegrado à medida que as pessoas se afastavam”, afirma Auld-Thomas.

A professora da University College of London, Elizabeth Graham, que não esteve envolvida na investigação, diz que esta apoia as afirmações de que os Maias viviam em cidades ou vilas complexas e não em aldeias isoladas.

“A questão é que a paisagem está definitivamente povoada - isto é, povoada no passado - e não, como parece a olho nu, desabitada ou 'selvagem'”, afirma.

As guerras e a conquista da região pelos invasores espanhóis no século XVI também contribuíram para a erradicação das cidades-Estado Maias.

A descoberta ajuda a alterar uma ideia do pensamento ocidental de que os trópicos eram o lugar onde “as civilizações morriam”, explica o coautor da investigação, Marcello Canuto.

A tecnologia LIDAR

A tecnologia LIDAR revolucionou a forma como os arqueólogos pesquisam áreas cobertas de vegetação, como os trópicos, abrindo um mundo de civilizações perdidas, afirma Canuto.

Nos primeiros anos da sua carreira, os levantamentos eram feitos a pé e à mão, utilizando instrumentos simples para verificar o terreno centímetro a centímetro.

Mas na década desde que o LIDAR foi utilizado na região da Mesoamérica, o professor diz que já mapeou cerca de 10 vezes a área que os arqueólogos conseguiram num século de trabalho.

Auld-Thomas diz que o seu trabalho sugere que há muitos sítios por aí que os arqueólogos não fazem ideia.

De facto, foram encontrados tantos locais que os investigadores não podem esperar escavá-los a todos.

“Tenho de ir a Valeriana um dia destes. É tão perto da estrada, como é que se pode não ir? Mas não posso dizer que vamos fazer um projeto lá”, diz Luke Auld-Thomas. “Uma das desvantagens de descobrir muitas novas cidades maias na era do Lidar é que há mais cidades do que alguma vez poderemos esperar estudar”, acrescenta.

A investigação foi publicada na revista académica Antiquity.