Alejandra está, há uma semana, a remexer entulho e lama. Veio a correr de Madrid à procura do avô, que foi visto pela última vez por uma vizinha no meio das cheias a ser arrastado pelas águas revoltas. Calcula o inimaginável - que o avô vai ser encontrado sem vida.
São esta generosidade e este altruísmo que movem os resistentes. Voluntários que não desistem dos pensamentos positivos, nos recantos de um cenário de total destruição e fraca hipótese de sobrevivência das pessoas apanhadas na enxurrada.
Os voluntários não se queixam da falta de máquinas para escavar ou afastar o que impede as buscas por sobreviventes ou mortos. Os voluntários persistem num trabalho inexplicável.
Talvez pela voz de Alejandra, que procura o avô há vários dias, consigamos entender mais um bocadinho.
"A minha mãe ainda não sabe. Não sei como contar-lhe. Estava à espera de ter o corpo do meu avô para lhe contar. A dada altura vai ter de saber, mas agora não".