Mundo

António Costa diz que paz na Ucrânia "não pode ser a dos cemitérios"

"A paz não pode recompensar o agressor, a paz na Ucrânia tem de ser justa", disse António Costa, durante uma cerimónia para assinalar a 'passagem do testemunho' entre Charles Michel e o presidente eleito do Conselho Europeu, em Bruxelas.

António Costa
António Costa
OLIVIER HOSLET

O presidente eleito do Conselho Europeu, António Costa, considerou esta sexta-feira que a paz na Ucrânia "não pode ser a dos cemitérios" e apelou a um esforço para autonomizar a União Europeia (UE) em matéria de defesa e segurança.

"A paz não pode ser a paz dos cemitérios, a paz não pode ser capitulação. A paz não pode recompensar o agressor, a paz na Ucrânia tem de ser justa", disse António Costa, durante uma cerimónia para assinalar a 'passagem do testemunho' entre Charles Michel e o presidente eleito do Conselho Europeu, em Bruxelas.

Perante a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, António Costa advertiu que apesar de a guerra ser no território ucraniano, "estão em causa dos princípios universais consagrados na Carta das Nações Unidas".

O presidente eleito do Conselho Europeu, que vai iniciar funções no domingo, 1 de dezembro, por um período de dois anos e meio, acrescentou que é necessário "escrever um novo capítulo da UE enquanto projeto de paz".

"Tornando-nos mais fortes, mais eficientes, mais resilientes e, sim, mais autónomos em matéria de segurança e defesa. Assumindo um ónus maior no que toca à nossa preparação militar. Reforçando simultaneamente os pilares da nossa parceria transatlântica", completou António Costa.

Há uma “urgência geopolítica”

António Costa declarou esta sexta-feira que há uma "urgência geopolítica" em cumprir o alargamento da UE e pediu que seja concretizado "sem prazos artificiais" e "obstáculos indevidos".

Durante uma intervenção para assinalar a 'passagem do testemunho' entre Charles Michel e o presidente eleito do Conselho Europeu, em Bruxelas, António Costa disse que há uma "urgência geopolítica tem de se refletir no alargamento" do bloco comunitário a outros países.

"O alargamento é um poderoso instrumento de paz, de segurança e de prosperidade. Usemos, portanto esse instrumento! Tanto a UE como os países candidatos têm de trabalhar mais e mais depressa. Sem prazos artificiais, mas também sem obstáculos indevidos", completou o presidente eleito do Conselho Europeu.

O ex-primeiro-ministro de Portugal considerou que o alargamento "reforçará indubitavelmente" a União Europeia.

No entanto, "a paz, segurança e a resiliência" não são apenas questões do bloco comunitário e a UE tem de olhar para todo o planeta, excluindo conceitos que para António Costa estão desatualizados.

"Vivemos num mundo multipolar, com sete continentes diferentes e cento e noventa e dois países. Temos de os implicar, tecendo em conjunto uma rede mundial. Ao fazê-lo, devemos pôr de lado conceitos como o 'sul global' ou o 'norte global'. A ação externa da UE tem de reconhecer que tanto o sul como o norte são, na realidade, plurais", advogou.

António Costa sustentou que a União Europeia tem de "defender causa mundiais", apresentando três exemplos: resolver "os desafios" e aproveitar as "oportunidades dos oceanos"; "reformar a arquitetura financeira mundial, a fim de a tornar mais equitativa, justa e reativa"; defender o "desenvolvimento sustentável a nível mundial", principalmente no sul.

Costa é o primeiro português a liderar o CE

No domingo, o antigo primeiro-ministro, António Costa, inicia funções como presidente do Conselho Europeu, a instituição composta pelos chefes de Governo e de Estado da União Europeia (UE), que define as orientações e prioridades políticas comunitárias.

É o primeiro português e o primeiro socialista à frente da instituição.

Costa, que fez parte do Conselho Europeu em representação de Portugal durante oito anos (período em que foi primeiro-ministro), conhece já alguns dos líderes da UE, mas pretende, no seu mandato de dois anos e meio, encontrar pontos de convergência para compromissos entre os 27 e tornar a instituição mais eficaz.

Antes de iniciar funções, realizou no verão e início do outono um roteiro por 25 capitais europeias para se encontrar presencialmente com os chefes de Governo e de Estado da UE para conhecer melhor as suas perspetivas e prioridades para o próximo ciclo institucional no espaço comunitário. Só não visitou a Bulgária e a Roménia por estarem em períodos eleitorais.

Sucede no cargo ao belga Charles Michel, em funções desde 2019 e que termina o mandato a 30 de novembro de 2024, num período marcado por crises como a saída do Reino Unido da União Europeia, a pandemia de covid-19, a invasão russa da Ucrânia e, mais recentemente, o reacender das tensões no Médio Oriente.