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"Gritava porque via o fim a chegar": ciclone deixa rasto de destruição em Mayotte

A chuva e o vento forte, com rajadas que ultrapassaram os 200 quilómetros por hora, destruíram casas, derrubaram árvores e inundaram infraestruturas críticas, como hospitais, no arquipélago francês.

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As equipas de emergência continuam esta segunda-feira a trabalhar para assegurar os serviços básicos no território francês de Mayotte, onde “centenas ou mesmo milhares” de pessoas podem ter morrido devido ao ciclone mais poderoso a atingir a ilha no oceano Índico em quase 100 anos.

As autoridades tentam agora assegurar a distribuição de energia, água potável, alimentos e ajuda médica, depois do ciclone Chido ter deixado um rasto de destruição no arquipélago francês com ventos superiores a 200 quilómetros por hora. Os residentes compararam o cenário a um apocalipse nuclear.

“Os primeiros aviões de intervenção chegaram a Mayotte para prestar ajuda de emergência face aos danos causados pelo ciclone. O Estado [francês] está totalmente mobilizado para apoiar os habitantes de Mayotte”, escreveu o ministro fracês da Segurança Interna, Nicolas Daragon, na rede social X.

Com regiões completamente arrasadas pelo ciclone, a extensão dos danos e onúmero real de mortos são ainda uma incerteza. Até esta segunda-feira de manhã, estavam confirmadas 14 mortes.

O autarca de Mayotte, François Xavier-Bieuville, disse este domingo que o número de vítimas mortais poderia chegar aos milhares: "Penso que serão certamente várias centenas, talvez perto de um milhar, ou mesmo alguns milhares."

O ciclone destruiu um hospital e vários centros médicos, o que deixou a situação do sistema de saúde no arquipélago "muito degradada". "O hospital sofreu danos significativos de água e também degradação, nomeadamente nas áreas de cirurgia, reanimação, urgência, maternidade, partes essenciais do funcionamento do hospital", descreveu a ministra da Saúde de França, Geneviève Darrieussecq.

A tempestade danificou ainda a torre de controlo do aeroporto da ilha, o que levou a suspender todos os voos comerciais. A paragem irá durar, no máximo, 10 dias.

De acordo com a agência Reuters, as autoridades estabeleceram uma ponte aérea entre Mayotte e a Ilha da Reunião, outro território francês, para dar apoio às equipas de emergência.

O mais forte ciclone a atingir Mayotte nos últimos 90 anos

Segundo os serviços de meteorologia franceses, esta foi a tempestade mais forte a atingir a ilha em mais de 90 anos.

A chuva e o vento forte, com rajadas que ultrapassaram os 200 quilómetros por hora, destruíram casas, derrubaram árvores e inundaram infraestruturas críticas, como o hospital e centros médicos.

Localizada a cerca de 8000 quilómetros de Paris, entre Madagáscar e Moçambique, Mayotte é um importante destino para os imigrantes em situação ilegal da vizinha Comores.

Apesar de fazer parte de França, é significativamente mais pobre que o resto do país e há décadas que enfrenta uma onda de violência com gangues e agitação social.

França colonizou Mayotte em 1843 e anexou as quatro grandes ilhas no arquipélago das Comores em 1904. O resto arquipélago votou pela independência num referendo em 1974, mas Mayotte decidiu manter-se sob controlo francês.

No domingo, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa transmitiu condolências e solidariedade ao homólogo francês, Emmanuel Macron, pelas vítimas causadas pelo ciclone.

No mesmo dia, a comissária europeia para a Gestão de Crises, Hadja Lahbib, anunciou a ativação do sistema Copernicus para acompanhar a situação no arquipélago francês e em Moçambique, também atingida pelas tempestade.