A Coreia do Sul atravessa uma fase conturbada, marcada por manifestações diárias à volta da residência presidencial e pela incerteza sobre o futuro do Presidente. Miguel Morais, português residente em Seul, descreve como a vida quotidiana segue em paralelo com uma tensão nas ruas.
“Há uma polaridade política evidente. Apesar de a maioria das pessoas estarem a favor da destituição do Presidente e até mesmo a sua prisão, existe muita gente que acredita que isto possa trazer mais instabilidade política que neste momento não é uma coisa que os coreanos querem, pelo menos daquilo que eu sinto".
Miguel Morais também sente as repercussões económicas dessa instabilidade. “A moeda coreana está a perder valor rapidamente em relação ao euro. Eu sou pago em wons, preocupa-me. Muitos coreanos não querem mais problemas [por receio do impacto económico] enão querem que o Presidente seja preso por causa disso".
Uma sociedade dividida, mas não se nota na vida diária
Apesar da divisão política, Miguel destaca que a vida em Seul permanece, em grande parte, normal.
“Há protestos em muitos locais, sobretudo à volta da residência do Presidente que impactam a vida diária, há atrasos nos transportes, mas mas de resto vive-se a vida completamente normal. Isto revela um bocado o esforço da sociedade de tentar seguir em frente, é o espírito coreano: não desistir e continuar a manifestar e lutar".
Mesmo em temperaturas negativas, os protestos não param. “Há pessoas a manifestarem-se o dia inteiro, num esforço para lutar por aquilo em que acreditam. Hoje é um dia crucial, porque é quando o mandato presidencial expira. Ainda não sabemos se o Presidente será preso ou se a situação se prolongará".
Presidente da Coreia do Sul tentou impor lei marcial
Um dos momentos mais tensos ocorreu quando o Presidente tentou impor a lei marcial, a 3 de dezembro.
“Foi um dia fora do comum e não estávamos à espera (...). Vivo perto da Assembleia Nacional e passaram helicópteros e soldados. As pessoas saíram do trabalho, não para ir para casa, mas para se manifestar".
Miguel acredita que o futuro depende do que vai acontecer hoje, "vamos saber se o mandato vai expirar sem sem terem conseguido prender o Presidente ou se as coisas vão continuar, se a luta vai continuar".
"Eu acho que eventualmente há-de vir estabilidade, acho que é aquilo que a maior parte das pessoas quer, acredito que daqui a pouco tempo teremos períodos mais estáveis".
O mandado de detenção para deter e interrogar o Presidente deposto Yoon Suk-yeol (que ignorou três intimações para depor), emitido a 31 de dezembro por um tribunal de Seul, expira à meia-noite de hoje (15:00 em Lisboa).
A agência anticorrupção da Coreia do Sul anunciou hoje que vai procurar uma extensão do mandado de detenção.