Subiu para 25 o número de mortos nos incêndios em Los Angeles, na Califórnia. Há também 23 desaparecidos. Os fogos começaram há exatamente uma semana e já consumiram mais de 16 mil hectares, o equivalente aos concelhos de Lisboa e Porto juntos. A situação em Los Angeles deverá voltar a piorar com o regresso do vento forte, os chamados ventos de Santa Ana. Em entrevista na SIC Notícias, o meteorologista Nuno Moreira explica este fenómeno e que impacto pode continuar a ter na evolução dos incêndios.
Os fogos na Califórnia caracterizam-se também por ocorrerem numa época do ano em que geralmente as temperaturas estão mais baixas e, por isso, não costumam ocorrer. Contudo, a combinação de ventos fortes com um período de seca prolongada revelou-se explosiva.
"As temperaturas não estão assim muito altas, estão na ordem dos 20 graus, junto ao mar. Acontece é que os ventos são muito intensos. Nós não temos ventos destes cá em Portugal, com esta intensidade. Já durante a semana passada e mesmo hoje e também amanhã, podemos ter rajadas que podem atingir os 120 km por hora, de acordo com a informação do Serviço Meteorológico Americano", refere o especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O que são os ventos de Santa Ana e quando ocorrem?
"Os ventos de Santa Ana são mais frequentes entre dezembro e fevereiro. É nos meses de inverno porque precisamos ter o ar frio. Acontece é que este ar frio é transportado para a zona das montanhas e tende a descer porque, comparando com outras zonas mais junto ao mar, o ar é mais quente e aí o ar frio tende a descer, o ar frio tende sempre a posicionar-se por baixo do ar quente. E, portanto, ele é forçado a descer junto à superfície. Acontece que, naquela zona, nós temos uma zona de montanhas com cerca de 4 mil metros, muito na Serra Nevada.
Depois há uma zona mais de deserto, um pouco mais abaixo. E depois temos, muito próximo da costa, esta segunda zona aqui de montanhas, que está a cerca de 50 quilómetros da costa, mas tem altitudes da ordem dos 2 mil.
O que isto vai fazer é que nós temos um ar relativo, já mais quente do que tínhamos, por exemplo, nesta zona das montanhas mais elevadas, mas ainda assim relativamente frio. E depois, quando desce, comprime e aquece. E chegamos aos tais 20 graus, 20 e pouco. As rajadas é que são muito, muito elevadas", explica o meteorologista.
Fenómeno é normal, “anómalo é ocorrer numa altura de seca”
Nuno Moreira sublinha que os ventos de Santa Ana ocorrem várias vezes por ano e que este é um fenómeno normal para a época nesta zona dos Estados Unidos. “O que é anómalo é ocorrer numa altura em que temos seca prolongada”, realça o especialista.
O meteorologista do IPMA acrescenta que com a ausência de precipitação naquela zona durante muitos meses e com a tendência para termos cada vez secas mais prolongadas, é possível que estas situações coincidam com os ventos de Santa Ana.
Assim, mesmo com a possibilidade de se conseguir fazer uma previsão meteorológica com cerca de uma semana de antecedência, as autoridades norte-americanas pouco mais conseguem fazer, além do que já têm feito, para combater este complexo fenómeno.