A justiça francesa começou a julgar o ex-cirurgião Joel Le Scouarnec, acusado de abusar sexualmente de quase 300 pacientes ao longo de 25 anos. As vítimas, na sua maioria crianças, foram alvo dos abusos quando estavam anestesiadas ou não totalmente despertas.
Em tribunal, o médico de 74 anos admitiu ter cometido "atos desprezíveis" e reconheceu que causou um "mal irreparável". A pena pode chegar aos 20 anos de prisão.
Para as vítimas e familiares, o julgamento representa o fim de mais de duas décadas de impunidade. Amélie Leveque, que foi operada pelo cirurgião em 1991, conta que só se reconheceu como vítima anos depois, ao ler um artigo de jornal.
"Estou aqui para obter respostas, para finalmente pôr fim a isto. Foram mais de cinco anos desde que me envolvi nesta história, depois de descobrir um artigo onde me reconheci como vítima", disse.
Mauricette Vinet, avó de Mathis Vinet, uma das vítimas que entretanto morreu, promete confrontar o ex-cirurgião.
"Vou falar com ele. Vou dizer-lhe que matou o Mathis. Vou dizer-lhe isso olhos nos olhos, se conseguir", declarou.
O advogado de defesa do cirurgião diz que o réu assume total responsabilidade pelos crimes.
"Temos um homem que reconhece os atos que cometeu e que está profundamente afetado. Ele próprio diz: 'O responsável sou eu'", afirmou Maxime Tessier.
Joel Le Scouarnec já tinha sido condenado, em 2005, a uma pena suspensa por posse de pornografia infantil, mas continuou a exercer em hospitais públicos.
Em 2020, foi condenado a prisão por abuso de quatro crianças, incluindo duas sobrinhas. Durante a investigação, a polícia encontrou um diário eletrónico onde detalhava os abusos cometidos ao longo dos anos.