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Moradores contestam "caça aos imigrantes" promovida por influenciadores de extrema-direita em Múrcia

Uma semana depois de Torre Pacheco ter sido palco de violência de cariz racista e xenófobo, o caso veio agravar a clivagem ideológica. Os movimentos de extrema-direita aproveitam-se das redes sociais para generalizar o estigma contra os estrangeiros. A esquerda ameaça promover uma greve geral na agricultura para mostrar que sem os imigrantes, a economia espanhola não se aguenta.

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Vito Quiles, um influenciador digital ligado a movimentos que defendem o repatriamento de 8 milhões de imigrantes, estava em Torre Pacheco. Durante horas andou para trás e para a frente, nas ruas da baixa, a mobilizar pessoas para a manifestação marcada para o final do dia.

O protesto tinha por objetivo criar patrulhas de cidadãos, que supostamente serviriam para caçar imigrantes. Não foi autorizado, mas os extremistas da plataforma Desokupa mantiveram a chamada.

A caminho estavam também neonazis e outros radicais de varias partes de Espanha. Pelo menos uma dezena de influenciadores digitais, com canais ligados á extrema-direita, vieram de Madrid, Barcelona e Alicante. Vieram não só para cobrir a manifestação, mas também promover a ideologia.

Entre as pessoas na praça, havia alguns locais. Poucos tinham a opinião da extrema-direita em relação aos imigrantes da terra.

Os distúrbios e os confrontos entre grupos alegadamente de extrema-direita e residentes em Torre Pacheco (região de Múrcia), onde 30% da população de 40 mil pessoas é imigrante ou de origem estrangeira, surgiram após um homem de 68 anos da localidade ter sido agredido por jovens sem razão aparente na quinta-feira passada, segundo contou a própria vítima a meios de comunicação social.

Telegram na origem de discurso de ódio que motivou "caçada" contra imigrantes

O jornal El País destaca esta terça-feira o grupo de Telegram que motivou a "caça" aos imigrantes. Esta segunda-feira, o grupo foi encerrado, pelas 20h36 locais, por "incitar à violência", mas não sem antes deixar um rasto de ameaças.

De acordo com o jornal espanhol, não era difícil entrar no grupo, não existia sequer um filtro, bastaria um familiar ou amigo enviar o link e poderia entrar livremente com apenas uma mensagem, como se fosse um código de acesso: "Deportem-nos agora".

Dentro desse grupo, era possível escolher entre 17 chats diferentes com mais de 1.700 membros, cada um deles identificado por comunidade autónoma de Espanha. O de Múrcia cresceu exponencialmente, relata o El País, desde o episódio de violência de três indivíduos contra o sexagenário Domingo Tomás Martínez, em Torre Pacheco, naquela região.

As conversas podem resumir-se a ofensas, ameaças de morte e até imagens de Hitler. Foi neste grupo que se organizou a "caçada" a imigrantes, desencadeando uma onda de tumultos que já conta com quatro noites.