Construído por volta de 1420 e redescoberto em 1911, Machu Picchu integra há quase duas décadas a lista das famosas “Novas Sete Maravilhas do Mundo”, ao lado do Cristo Redentor (Brasil), Coliseu de Roma (Itália), Petra (Jordânia), Chichén Itzá (México), Grande Muralha da China e Taj Mahal (Índia). Contudo, este título está agora em risco e poderá ser retirado, algo que seria inédito e pelas piores razões.
No último fim de semana, através de um comunicado, a Fundação New7Wonders alertou para problemas graves na gestão do turismo, como o excesso de visitantes sem planeamento, o aumento descontrolado dos preços, venda irregular de bilhetes, conflitos sociais e dificuldades de transporte.
Segundo a organização, o título de "Maravilha do Mundo" implica um "compromisso partilhado com a conservação e gestão responsável do local, bem como com a implementação de normas internacionais de preservação e gestão".
Relembra que este é um símbolo da identidade do Peru e um importante motor da economia turística do país, apelando assim ao Governo central, às administrações regionais, às comunidades locais e ao setor privado para que colaborem de forma coordenada, de forma a garantir a proteção completa de Machu Picchu.
Qual seria o impacto para o país?
A antiga ministra do Comércio Externo e Turismo do Peru, Mara Seminario, descreve este cenário como um "duro golpe comunicacional". Em entrevista ao conceituado jornal peruano El Comercio, sublinha que é sobretudo graças ao título de "Maravilha do Mundo" que Machu Picchu continua a atrair cada vez mais turistas, embora os números ainda não tenha alcançado o esperado.
"Perder esse título prejudicaria gravemente a imagem do destino e atrasaria a recuperação do turismo internacional, já bastante afetado pela pandemia e pela crise política de 2022 e 2023", explica.
Defende que foram cometidos vários erros, em especial a venda de "1.000 bilhetes físicos sem o planeamento adequado", o que acabou por gerar desorganização e especulação, destacando ainda "instabilidade política e constantes mudanças de autoridades".
"É essencial digitalizar 100% dos bilhetes, integrá-los no sistema de transportes e garantir segurança, para que a experiência do visitante não seja caótica. Mas, acima de tudo, o Governo deve dar sinais claros: a Presidência do Conselho de Ministros deve liderar o processo, e não apenas coordenar. O mundo precisa de ver que há controlo e vontade política para resolver o problema", reforça.
Mara Seminario alerta ainda que, caso não sejam tomadas medidas imediatas, os efeitos negativos vão começar a sentir-se em 2026 ou mesmo em 2027.
O que está a acontecer em Machu Picchu?
A população local exige a saída da atual operadora responsável pelo serviço de transporte ferroviário entre Cusco e Machu Picchu. Embora o contrato de concessão de 30 anos já tenha terminado, a empresa continua a operar normalmente.
Nas últimas semanas, Machu Picchu tem enfrentado uma grave crise que já levou a bloqueios, greves anunciadas e à perda de confiança a nível internacional. A situação terá começado no início deste mês, com manifestações relacionadas com o controlo da concessão da principal rota de acesso à cidade inca, situada a cerca de 2.400 metros de altitude.
Como forma de protesto, os habitantes bloquearam a linha férrea com pedras e troncos, o que levou à suspensão do serviço ferroviário durante vários dias. Os manifestantes reclamam que a concessão seja atribuída a uma empresa local, gerida por uma das comunidades da região.
De acordo com a AFP, entre terça e quarta-feira, cerca de 2.300 turistas foram obrigados a deixar Machu Picchu devido à interrupção dos transportes.
Entre esses visitantes encontravam-se cidadãos de diversas nacionalidades, incluindo franceses, japoneses, americanos, brasileiros, alemães e portugueses.