Guerra Rússia-Ucrânia

A história de Roman Abramovich, o oligarca russo que nasceu num berço humilde

O homem tímido que ficou órfão aos três anos e se tornou mundialmente famoso ao comprar o Chelsea. Quem é (e foi) Roman Abramovich, um dos oligarcas próximos do Presidente russo.

A história de Roman Abramovich, o oligarca russo que nasceu num berço humilde

Nos dias de hoje é conhecido em todo o mundo por ser um dos oligarcas russos alvo de sanções devido à proximidade com o Presidente Vladimir Putin, mas nem sempre a vida de Roman Abramovich foi de luxo. Órfão desde os três anos, o ex-dono do Chelsea foi criado num seio familiar onde o dinheiro era escasso.

Apesar de ser milionário é discreto, algo tímido até. Em 2003, quando comprou o Chelsea disse, citado pela BBC: “As pessoas vão focar-se em mim durante uns dias, mas depois vão esquecer quem sou. E eu gosto disso”. Mas desde a invasão russa da Ucrânia a 24 de fevereiro deste ano voltou a ser notícia, desde logo no Reino Unido.

O Governo britânico decidiu inclui-lo na lista de oligarcas russos alvo de sanções e congelou os seus ativos no país, incluindo residências, obras de arte e o Chelsea FC, além de o ter proibido de entrar no país. As ligações próximas a Vladimir Putin afetaram a sua reputação para o bem e para o mal, em particular mais recentemente. Mas o percurso de vida de Abramovich nem sempre foi de ostentação e luxo.

Aos três anos ficou órfão

Roman Arkadyevich Abramovich nasceu em 1966 em Saratov, uma localidade a algumas centenas de quilómetros da fronteira com a Ucrânia. A mãe Irina morreu de envenenamento quando Abramovich tinha apenas um ano e o pai morreu dois anos depois num acidente de trabalho. Foi, por isso, criado por parentes em Komi, bastante longe da sua cidade natal e num lar onde o dinheiro era escasso e as temperaturas muito baixas no inverno.

Ainda assim, não encara a sua infância como difícil. Numa entrevista sobre a sua vida pessoal cedida ao The Guardian, e citada pela BBC, Abramovich refere que: “A minha infância não foi má. Na infância não podemos comparar as coisas: uma criança come uma cenoura e outra come um doce, e para ambas tem um sabor bom. Quando somos crianças não fazemos distinção”.

Aos 16 anos deixou a escola e ainda durante a sua passagem pelo Exército Vermelho, trabalhou como mecânico e vendeu brinquedos em Moscovo. Com a chegada ao poder de Boris Yeltsin e o início de um período desregulado de privatizações, Abramovich dedicou-se ao ramo dos perfumes e desodorizantes, tendo começado a acumular a sua riqueza.

O fim da União Soviética abriu-lhe outras oportunidades e, com apenas 20 e poucos anos, deu-se outro golpe de sorte: em 1995 adquiriu em parceria com o oligarca Boris Berezovsky a petrolífera Sibneft, uma das maiores produtoras de petróleo da Rússia e do mundo, por pouco mais de 176 milhões de euros.

Ainda, na década de 90, envolveu-se nas chamadas “guerras do alumínio”, onde oligarcas que acumularam as fortunas com o colapso da União Soviética, lutaram pelo controlo dessa indústria. “[Nessa altura], a cada três alguém era assassinado”, revelou Abramovich em 2011, sendo um dos que acumulou milhões durante esse período através da Rusal, que ainda hoje é a segunda maior empresa mundial do setor.

Ligações à política russa

Aliado do Presidente Boris Yeltsin e um dos protagonistas políticos em Moscovo no pós-União Soviética, chegou inclusivamente a ter um apartamento do Kremlin. Em 1999, quando Yeltsin renunciou, Abramovich apoiou o avanço do primeiro-ministro e ex-espião do KGB, Vladimir Putin.

Ao contrário de outros políticos que foram presos ou exilados, em 2000, Abramovich foi eleito governador da região carenciada de Chukotka, onde investiu o seu próprio dinheiro em serviços sociais e conquistou popularidade. Durante os oito anos em que esteve no cargo investiu perto de mil milhões de euros na região, a que se somaram mais de dois mil milhões em doações nos anos seguintes.

A entrada no futebol

Para surpresa de muitos, em 2003 deu o passo que o tornou mundialmente conhecido: comprou o Chelsea, um dos maiores clubes britânicos. “A minha filosofia é pôr equipas profissionais no terreno”, disse à data ao Financial Times.

“Em Chukotka, tenho equipas profissionais no terreno e vou fazê-lo aqui também”, acrescentou. Na altura, recorde-se, contratou para gerir o plantel principal do clube o português José Mourinho. No seu percurso no Chelsea, Abramovich conquistou por cinco vezes a Premier League, duas vezes a Liga dos campeões e cinco vezes a Taça de Inglaterra.

Desde então, o dinheiro do oligarca russo invadiu Londres, mas não só. Acredita-se que entre as propriedades de Abramovich conste uma mansão de 15 quartos em Kensington Palace Gardens, em Londres, avaliada em cerca de 150 milhões de euros, um apartamento em Chelsea, um rancho no Colorado (EUA) e uma casa de férias na Riviera Francesa. Da lista de bens fazem ainda parte os seus iates – o Solaris e o Eclipse – que, saliente-se, estão entre os maiores do mundo, e do Boeing 767 cujo nome é “The Bandit” (“O Bandido”, em tradução livre).

Questionado em 2006 sobre se o dinheiro trás felicidade, Abramovich respondeu: “Não pode comprar a felicidade, mas alguma independência sim”.

Vida pessoal

Depois de três casamentos e três divórcios, Abramovich está atualmente solteiro. O primeiro casamento, com Olga Lysova terminou ao fim de três anos, o segundo, e mais longo, em 1991, com Irina Malandina acabou em 2007, tendo na altura surgido rumores na imprensa cor-de-rosa britânica de um relacionamento com Darya Zhukova, filha de outro oligarca, e com quem viria a casar em 2008.

Mas ao fim de dez anos, o terceiro casamento terminou. Com as duas últimas mulheres teve sete filhos (cinco com Irina, dois com Darya). O mais velho, Arkadiy já é dono de empresas e fundos de investimento, e duas das filhas, Arina e Sofia, são amazonas profissionais.

Segundo o ranking da Forbes, Roman Abramovich é o 142º mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada em cerca de 12 mil milhões de euros.

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