Chechénia, 1999
Três semanas depois de ter sido eleito primeiro-ministro da Rússia (a 16 de agosto de 1999), Vladimir Putin avançou com uma ofensiva na Chechénia. O avanço foi justificado por um ataque a Moscovo, no qual morreram 300 civis russos, e que Putin atribuiu aos separatistas da Chechénia.
Apesar dos chechenos terem negado a autoria dos ataques, o então primeiro-ministro ordenou às tropas russas para avançarem sobre a capital do país, Grozny, sob o pretexto de uma “operação antiterrorista”. Assim começou a segunda guerra na Chechénia.
Importa referir que entre 1994 e 1996 já tinha sido travado um conflito entre a Rússia e a Chechénia, que terminou com a Rússia derrotada pela resistência chechena.
Poucos meses depois, em fevereiro de 2000, o exército russo tomou a capital Grozny, arrasando-a com artilharia e ataques aéreos e, só passados dez anos, em abril 2009, é que o Kremlin encerrou a operação na Chechénia.
Depois de anos de recolheres obrigatórios, bloqueios em estradas, buscas pontuais e detenções arbitrárias, a festa saiu às ruas chechenas: milhares de pessoas agitaram bandeiras russas e chechenas. O país ficou sob o controlo de um Presidente pró-russo.
Estima-se que o conflito tenha custado a vida a dezenas de milhares de pessoas, civis e militares.
Alexander Litvinenko, um ex-agente Serviço Federal de Segurança russo, revelou que os russos plantaram bombas na capital da Chechénia com a conivência de Putin, numa estratégia que o ajudaria a chegar à Presidência da Rússia – foi eleito Presidente em 2000. O ex-agente morreu envenenado, no Reino Unido, em 2006.
Geórgia, 2008
A estratégia de Putin na Geórgia assemelha-se muito à que usou para tomar os territórios separatistas ucranianos, Donetsk e Lughansk. Em agosto de 2008, as forças separatistas das regiões de Abecázia e a Osssétia do Sul começaram a lutar contra o regime da Geórgia. O então Presidente, Mikheil Saakashvili, enviou tropas para as duas regiões com o objetivo de restabelecer a ordem.
Por sua vez, Putin enviou tropas russas para apoiar os separatistas, uma jogada parecida com a da região de Donbass, na Ucrânia, em que reconheceu a independência dos territórios de forma unilateral.
O Presidente russo enviou soldados para Abecázia e a Osssétia do Sul, numa operação de “reforço da paz”. O mesmo aconteceu este ano com os territórios separatistas da Ucrânia, para onde prometeu enviar tropas de “manutenção da paz”.
O na altura Presidente da Geórgia também defendia a adesão à NATO, tal como o Presidente ucraniano Zelensky.
As tropas russas lançaram uma operação relâmpago na Geórgia e em apenas cinco dias controlaram as cidades de Abecázia e a Osssétia do Sul.
A Geórgia informou que o conflito matou 228 civis e 184 militares e a Rússia disse que 64 militares e 162 civis russos foram mortos. No auge do conflito, dezenas de milhares de civis de ambos os lados fugiram das regiões.
Na altura, o Ocidente condenou a resposta da Rússia, considerando-a “desproprocional” e a UE e a NATO travaram o diálogo com a Rússia. No entanto, bastou um ano para dissipar as tensões, uma vez que a Rússia era o principal fornecedor de energia para grande parte da Europa Ocidental.
Até hoje, permanecem cerca de 13 mil soldados às ordens de Moscovo em Abecázia e a Osssétia do Sul.
Crimeia, 2014
A crise na Crimeia foi desencadeada pela queda do Presidente ucraniano pró-Rússia Víktor Yanukóvytch, em 2014. Na altura, os ucranianos queriam estar mais perto da União Europeia, enquanto o Presidente se aproximava cada vez mais do Kremlin. Depois de 93 dias de protestos populares, Víktor Yanukóvytch foi deposto.
A queda do Presidente pró-russo foi o pretexto para as primeiras intervenções militares na Ucrânia e para a anexação da Crimeia e da cidade costeira de Sebatopol à Rússia.
Na mesma altura, surgiu uma revolta separatista em Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, na fronteira com a Rússia. Os territórios declararam a independência, levando a um conflito armado com Kiev.
Sob o pretexto da proteção da população de Donbass, a Rússia lançou operações militares no leste da Ucrânia. A Ucrânia e o Ocidente acusaram a Rússia de instigar o conflito e de despejar armas e tropas para ajudar os separatistas.
Estima-se que 14.000 pessoas morreram nos combates que levaram ao conflito atual.
Síria, 2015
Em 2015, a intervenção da Rússia na Síria ajudou o Presidente sírio Bashar al-Assad a conseguir vantagem em relação aos rebeldes, que tinham desencadeado uma guerra civil no país, e aos terroristas do Daesh.
Dois anos antes, o então Presidente norte-americano tinha intervido na guerra após um ataque químico em Ghouta, que violou a “linha vermelha” imposta pelos EUA. A intervenção de Putin era também uma oportunidade para combater as forças norte-americanas e fortalecer a estratégia russa no Médio Oriente.
O envio de aviões e forças especiais russas permitiu ao regime de Bashar al-Assad vitórias decisivas, recuperando território que tinha sido perdido para rebeldes e jihadistas. De acordo com Moscovo, foram enviados 63 mil soldados russos para a Síria.
Ainda hoje a Rússia tem forças do regime de Putin estacionadas em duas bases militares sírias: no aeródromo de Hmeimim e no porto naval de Tartus.
Azerbeijão e Arménia, 2020
O conflito entre a Arménia e o Azerbaijão recai sobre uma disputa histórica na região de Nagorno-Karabakh, situada entre os dois países. Apesar de o conflito já durar há muitos anos, em 2020 houve uma escalada de tensão com os arménios a acusarem os azeris de uma incursão na fronteira.
A Rússia ofereceu-se para prestar assistência na delimitação das frontieras, disse na altura o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Em maio de 2020, os militares russos já estavam na Arménia, país aliado da Rússia, a reforçar áreas perto da fronteira com o Azerbaijão. Em 2021, reforçaram a presença militar na fronteira sob o pretexto de uma “garantia de segurança adicional” após o conflito.
A Arménia e o Azerbaijão fazem parte de uma região que liga a Rússia ao Médio Oriente, um território estratégico ao nível da distribuição energética.
Cazaquistão, 2022
Em janeiro deste ano, Putin enviou tropas para o Cazaquistão, uma ex-república soviética, com o objetivo de reprimir os protestos pró-democracia no país. Mais uma vez, o Presidente russo disse que ia enviar tropas de “manutenção de paz”, tal como aconteceu em conflitos anteriores.
Putin disse ainda que não ia tolerar “revoluções coloridas” no espaço da ex-União Soviética, uma expressão recorrente do chefe de Estado russo para se referir a revoltas alegadamente orquestradas pelo “Ocidente”.
Prometeu que o contingente abandonaria o território quando cumprisse as funções.
Ucrânia, 2022
A ofensiva militar russa na Ucrânia foi lançada na passada quinta-feira. Desde então, já foram vistas colunas militares com vários quilómetros de extensão e ouvidos bombardeamentos em várias cidades ucranianas.
A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e mais de 660 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.