O Kremlin nega a intenção de um ataque militar a território ucraniano, mas a invasão de há oito anos contribui para a desconfiança do Ocidente.
A fuga de Yanukovich
O regresso ao poder, em 2010, de Viktor Yanukovich, homem forte do Kremlin na Ucrânia, que tinha sido afastado seis anos antes pela chamada “Revolução Laranja”, é um momento-chave na relação conflitual entre Kiev e Moscovo.
Três anos depois de ser reeleito, Yanukovich rejeitou um acordo de associação com a União Europeia e tentou reaproximar o país da Rússia.
A medida originou violentos protestos de rua, com epicentro na praça Maidan. e acabou com o Presidente a fugir e a exilar-se na Rússia.
A invasão da Crimeia
No entanto, a crise estava aberta e estendeu a passadeira a Moscovo para, a pretexto dos laços históricos com a população russófona, invadir e anexar a Crimeia.
Na região do Donbas, separatistas apoiados por Moscovo declararam a independência das províncias de Donetsk e Luhansk.
Oito anos de conflito fizeram mais de 14 mil mortos e cerca de um milhão e meio de deslocados, mas, nos últimos meses, voltou a pairar a ameaça de conflito aberto e generalizado.
Uma nova invasão russa?
Ainda que a Rússia negue reiteradamente quaisquer intenções bélicas, a deslocação em massa de militares e armamento para junto das fronteiras ucranianas fez soar os alarmes a ocidente.
Moscovo apontou o dedo a Kiev por não cumprir os acordos de Minsk, que garantem autonomia à população russa em território ucraniano.
O Governo ucraniano aproveitou o momento de tensão para apelar à intervenção de potências ocidentais e invocar a estabilidade da Europa e do mundo.
A movimentação de meios militares não foi apenas russa. A 4 de novembro, quando o navio norte-americano USS Mount Whitney cruzou o Estreito de Bósforo para se juntar às atividades da NATO no Mar Negro, a frota russa destacada na região denunciou que tinham sido ativados sistemas de defesa e exercícios de destruição de alvos inimigos.
O Presidente russo, Vladimir Putin, foi à televisão estatal reiterar que Moscovo não tinha intenção de atacar a Ucrânia, mas que via com maus olhos a presença de forças da aliança atlântica às portas de território russo.
A argumentação do Kremlin assenta na própria segurança territorial e faz de uma integração da Ucrânia na NATO uma linha vermelha.
Três antigas repúblicas soviéticas já fazem parte da Aliança atlântica e a instalação de sistemas balísticos antimíssil na Roménia e na Polónia são sentidos como uma ameaça pela Rússia.
O fantasma de que a Rússia poderá tentar recuperar a esfera de influência noutras ex-repúblicas soviéticas, inclusive países membros da aliança atlântica, continua a ser um dos argumentos para a expansão da NATO a leste, mas que Moscovo devolve invocando a própria segurança.