Guerra Rússia-Ucrânia

Agência Internacional de Energia Atómica “preocupada” com situação nuclear na Ucrânia

Diretor da AIEA alega que, sem a monitorização da sua equipa, não se pode assegurar à comunidade internacional onde está o material nuclear ou o que lhe acontece”.

Agência Internacional de Energia Atómica “preocupada” com situação nuclear na Ucrânia

O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), exortou esta terça-feira as autoridades ucranianas e russas a permitirem que os seus peritos inspecionem o material da central nuclear de Zaporíjia, ocupada pelas forças da Rússia.

Numa audição perante as comissões de Negócios Estrangeiros e Defesa do Parlamento Europeu, em Bruxelas, sobre a segurança das instalações nucleares ucranianas, Mariano Grossi admitiu “preocupação” relativamente à segurança nuclear na Ucrânia, principalmente em Zaporíjia, a maior central da Europa.

O diretor da AIEA garantiu estar em contacto com os “colegas ucranianos e em contacto constante com os peritos e o governo russo” e exortou-os a “permitir que os peritos da AIEA vão a Zaporíjia”. Isto porque “há uma série de atividades que os peritos deveriam estar ali a realizar e que não estão autorizados a fazê-lo“, criticou Mariano Grossi.

De acordo com o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica, “a central nuclear realiza atividades que requerem, periodicamente, inventários físicos e trabalhos de monitorização no interior e, sem isso, não se pode assegurar à comunidade internacional onde está o material nuclear ou o que lhe acontece”.

Perante os eurodeputados, Mariano Grossi explicou que, recentemente, conseguiu “negar rapidamente” que a Ucrânia estava a desenvolver armas nucleares “simplesmente porque podia ser objetivamente confirmado que não havia desvio de material nuclear”. No entanto, “não poder ir e inspecionar a possibilidade de acusações ou dúvidas no futuro é um perigo real”, alertou o responsável.

O diretor falou ainda numa situação “esquizofrénica” pelo facto de a Ucrânia e a Rússia permitirem uma missão de peritos à fábrica, mas apenas “sob a sua bandeira”, pelo que a agência procura uma solução em que as suas equipas se desloquem com aval de Kiev e Moscovo.

Mariano Grossi lamentou que o funcionamento de Zaporíjia não seja “inteiramente claro”, uma vez que existem “potenciais desacordos, fricções e instruções contraditórias e não se quer realmente ter isso numa instalação tão complexa e sofisticada como uma central nuclear”.

As forças russas na Ucrânia controlam a central nuclear de Zaporíjia, no sul do país, – alvo de tiros de artilharia no início da invasão de Moscovo que originaram um incêndio e fizeram temer uma nova catástrofe nuclear, 36 anos após a de Chernobyl.

Encontrado urânio em locais que o Teerão não tinha dado conhecimento

Na sua intervenção perante os eurodeputados, Mariano Grossi foi também questionado sobre a situação nuclear no Irão, mostrando-se “extremamente preocupado” por a AIEA ter encontrado urânio enriquecido nos últimos meses em locais onde Teerão não tinha declarado qualquer atividade nuclear.

Ainda assim, disse estar “confiante de que será alcançado um acordo [nuclear com o Irão] num período de tempo razoável”, mesmo reconhecendo que “a janela de oportunidade pode ser fechada a qualquer momento”.

As declarações surgem numa altura crítica das negociações começadas na primavera de 2021 entre o Irão, Alemanha, China, França, Reino Unido e a Rússia sobre o novo acordo nuclear de Teerão, contando com a participação indireta dos Estados Unidos, que se retiraram do pacto em 2018.

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