Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (LV): o êxodo final de Mariupol

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (LV): o êxodo final de Mariupol

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – O ÊXODO FINAL DE MARIUPOL

Está em marcha a fuga de Mariupol. Várias dezenas de civis deixaram, nas últimas horas, a cidade sitiada do sudeste da Ucrânia, em autocarros que partiram de um ponto de evacuação em direção a território controlado pela Ucrânia. As autoridades de Mariupol esperam retirar cerca de seis mil pessoas sob um acordo preliminar que estabelece um corredor humanitário seguro entre Mariupol e Zaporíjia. Este é o primeiro acordo com a Rússia em semanas.

Enquanto isso, o presidente Vladimir Putin afirmou que a Rússia vai alcançar os seus objetivos militares na região de Donbass e isso vai permitir que as pessoas “regressem às suas vidas normais”.

Numa reunião no Kremlin destinada a promover a Rússia como uma terra de oportunidades, Putin garantiu que Moscovo foi forçada a iniciar uma “operação militar” na Ucrânia por causa da “tragédia” que está a ocorrer em Donbass. “Eu disse isso no início – o objetivo desta operação é ajudar o nosso povo que vive em Donbass”, afirmou.

“Vamos agir de forma consistente e garantir que a vida se torne gradualmente normal, mude para melhor”.

2 – MEIO MILHÃO DE UCRANIANOS DEPORTADOS “SEM ACORDO” PARA A RÚSSIA

Cerca de 500 mil pessoas deportadas “sem acordo” para a Rússia, acusa legislador ucraniano. Mykyta Poturayev, chefe do comité humanitário do parlamento ucraniano, disse aos membros do parlamento europeu: “Meio milhão de cidadãos ucranianos foram deportados da Ucrânia para a Federação Russa sem o acordo de sua parte.”

Poturayev acrescentou que não há qualquer possibilidade de estabelecer contato com essas pessoas e pediu à Cruz Vermelha ajude nesse processo. O deputado disse estar preocupado com o destino dos ucranianos que ele diz terem sido enviados para a Rússia, dizendo aos legisladores europeus: “Conhecemos os chamados campos de filtragem para cidadãos ucranianos. Essa é uma das possíveis direções da atividade da Cruz Vermelha, pelo menos para encontrar essas pessoas deportadas e entender o que está acontecendo com elas no território da Federação Russa”.

3 – RUSSOS COM “GANHOS LIMITADOS” MAS SUCESSO EXPRESSIVO “IMPROVÁVEL”

O Instituto para o Estudo da Guerra admite defende que “é improvável que a ofensiva no Donbass seja dramaticamente mais bem-sucedida do que as ofensivas russas anteriores”, mas as forças russas podem “obter ganhos limitados”.

As forças russas não fizeram uma “pausa operacional” necessária para “reconstituir” e integrar adequadamente as unidades danificadas retiradas do nordeste da Ucrânia, aponta este instituto norte-americano.

“Relatos frequentes de baixa motivação russa e contínuos desafios logísticos indicam que o poder de combate efetivo das unidades russas no leste da Ucrânia é uma fração da sua força em números”, acrescenta o report do Instituto para o Estudo da Guerra.

4 – SHOIGU E A TESE DA “LIBERTAÇÃO” DO DONBASS

O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, acusou os Estados Unidos e os seus aliados de estarem a fazer tudo para arrastar a guerra na Ucrânia “até ao último ucraniano”.

Shoigu reafirmou que a intervenção russa visa “libertar as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia. Shoigu, um dos ultraleais a Putin, que nas últimas semanas terá tido dois ataques cardíacos que o limitaram bastante, insistiu na tese russa de que “os EUA e os estados ocidentais estão a tentar que a operação “dure o máximo tempo possível”.

5 – SEIS MILHÕES DE UCRANIANOS EM RISCO DE FOME

Pelo menos seis milhões de ucranianos, tanto dentro da Ucrânia como refugiados em países vizinhos, precisam de alimentos e ajuda em dinheiro quer de forma imediata quer para o curto prazo, alertou a ONU.

A destruição generalizada de infraestruturas deixou cidades como Bucha, Irpin, Hostomel e Borodianka, libertadas em diferentes momentos das tropas russas, com necessidade de vários tipos de ajuda, pelo que a assistência alimentar está a ser acelerada nesses locais, disse hoje o coordenador de emergência do Programa Alimentar Mundial (PAM), Jakob Kern, numa videoconferência realizada na cidade ucraniana de Lviv.