Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (LXI): a hora de Guterres está a chegar

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (LXI): a hora de Guterres está a chegar

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – A HORA DE GUTERRES ESTÁ A CHEGAR

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, encontrou-se ontem com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em Ancara. Ambos os líderes reafirmaram a necessidade urgente de acesso efetivo a corredores humanitários para evacuar civis na Ucrânia. Em comunicado, a ONU informou que Guterres aproveitou o encontro com Erdogan para expressar o seu apoio aos esforços diplomáticos em andamento por parte da Turquia em relação à guerra na Ucrânia, com ambos a reforçarem que o “seu objetivo comum é acabar com a guerra o mais rápido possível e criar condições para acabar com o sofrimento dos civis”.

Guterres e Erdogan discutiram ainda o impacto da guerra da Rússia na Ucrânia em questões regionais e globais, incluindo em setores como energia, alimentos e finanças. Após esta deslocação à Turquia, país que tem assumido a mediação do conflito, António Guterres visitará Moscovo, hoje, terça-feira, onde irá encontrar-se com o Presidente russo, Vladimir Putin. Guterres vai ter uma reunião de trabalho e um almoço com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, e será recebido pelo Presidente, Vladimir Putin.

Será o primeiro encontro presencial – e provavelmente a primeira conversa também – entre Putin e Guterres desde o início da guerra. Na quinta, o ex-primeiro-ministro português irá também à Ucrânia. No encontro marcado para quinta-feira prevê-se uma reunião de trabalho com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, e com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

2 – OLHEMOS PARA ZAPORÍJIA

Zaporíjia pode ser o próximo alvo dos russos. Com Mariupol a ter Azovstahl por resolver (bombardeamentos já começaram há dois dias apesar das promessas de Putin em contrário), e com Kherson a poder cair de novo para os ucranianos, as forças russas apostam em Zaporíjia, cidade estratégica, nas margens do rio Dnipro, que pode, na dinâmica da ofensiva russa, ser ponto de inflexão entre o que os russos contam vir a conquistar no Donbass, Mariupol e parte do corredor sul e o que a Ucrânia poderá conseguir segurar, entre Kherson, eventualmente ainda Kharkiv e, claro Kiev e todo o norte e noroeste.

Entretanto, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, disse a caminho da base militar da NATO em Ramstein, onde hoje os EUA promovem reunião com mais de 40 países aliados para concertar esforços de ajuda à Ucrânia, que um dos principais objetivos e o de sincronizar e coordenar a ajuda de segurança a Kiev, que inclui armamento pesado, artilharia, drones armados e munições: “As próximas semanas serão muito, muito críticas. Os ucranianos precisam de apoio contínuo para serem bem-sucedidos no campo de batalha”. Autoridades dos EUA avaliam que a Rússia dependerá fortemente de ataques de artilharia, tentando atacar as posições ucranianas enquanto Moscovo se move em forças terrestres de várias direções para tentar eliminar parte significativa do exército ucraniano. A declaração do secretário de Defesa dos EUA de que Washington queria ver a Rússia enfraquecida militarmente e incapaz de se recuperar rapidamente, marca mudança nos objetivos de Washington. Na Polónia, o general Lloyd Austin, secretário da Defesa dos EUA definiu que a linha da administração Biden sobre ajudar a Ucrânia se coloca na manutenção da sua soberania e defesa do seu território. Mas Austin apontou um segundo objetivo americano: “Queremos ver a Rússia enfraquecida a ponto de não poder fazer o tipo de agressão que fez ao invadir a Ucrânia”. E isso significa que a Rússia “não deveria ter a capacidade de reproduzir muito rapidamente” as forças e equipamentos que foram perdidos na Ucrânia.

3 – “O PETRÓLEO ALIMENTA A GUERRA”

Militantes da Greenpeace acorrentaram-se durante várias horas a um petroleiro russo no fiorde de Oslo, na Noruega, visando impedir o descarregamento de hidrocarbonetos “que financiam a guerra de Putin” na Ucrânia, anunciou a organização ambientalista.

Cerca de duas dezenas de pessoas foram detidas no protesto.

Desde o início da guerra, os países da EU já pagaram perto de 42 mil milhões de euros à Rússia na sequência de compra de combustíveis fósseis – um valor quatro vezes maior do apoio militar dado pelos aliados ocidentais a Ucrânia (sendo que quase metade dele foi feito pelos EUA).

4 – BIDEN E MACRON INTENSIFICAM DIÁLOGO SOBRE A GUERRA

O Presidente de França, Emmanuel Macron, e o Presidente dos EUA, Joe Biden, concordaram em convocar “rapidamente” discussões “detalhadas” sobre questões globais, como a guerra na Ucrânia. Garantida a reeleição em França, Macron pode voltar a focar-se na guerra, depois de duas semanas em que o seu foco teve que estar na frente interna.

Biden telefonou a Macron para o felicitar pela vitória eleitoral de domingo:“O Presidente expressou a sua disponibilidade em continuar a trabalhar em estreita colaboração com o Presidente Macron nas prioridades globais compartilhadas”, de acordo com um comunicado da Casa Branca. O Presidente dos EUA admitiu alívio pela reeleição de Macron e parecem estar reunidas as condições para que surja uma melhor articulação entre Washington e Paris na forma como lidar com Putin.

5 – SUÉCIA E FINLÂNDIA CANDIDATAM-SE EM CONJUNTO À NATO

A Suécia e a Finlândia concordaram em apresentar pedidos de adesão à NATO ao mesmo tempo, informa o jornal sueco Expressen. Ambos os países apontam esse anúncio para a semana de 16 a 22 de maio, durante a visita do presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, a Estocolmo, segundo fontes do governo sueco.

A consumação desse pedido deverá ser feita na cimeira da NATO em Madrid de 29 e 30 de junho.