Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XL): Ucrânia europeia

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XL): Ucrânia europeia

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 — VON DER LEYEN ESTA SEXTA EM KIEV COM ZELENSKY

Visita corajosa e muito simbólica da presidente Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, esta sexta, a capital ucraniana. Reforça compromisso europeu de apoio à Ucrânia e simboliza vontade comum de ver a Ucrânia mais do lado europeu e a salvo do urso de Moscovo. Os pormenores da viagem estão envoltos em segredo por motivos de segurança; a coesão dos 27 países da UE em torno do apoio à Ucrânia é uma das grandes histórias políticas desta guerra até agora. O Alto Representante Josep Borrell também pode ir a Kiev nos próximos dias; o Parlamento Europeu aprovou medidas para proteger refugiados, decretou recomendação de embargo total a bens energéticos da Rússia (ainda que esta medida careça de aprovação posterior dos Estados Membros) e ainda a exclusão da Rússia do G20.

2 — TENSÃO EUA/CHINA A CRESCER DE FORMA PERIGOSA

Possível visita da “speaker” do Congresso, Nancy Pelosi, a Taiwan será vista pela China como uma afronta direta — o mesmo foi entendido por Pequim quando cinco congressistas (quatro democratas e um republicano) visitaram a ilha em novembro passado; se desta vez for mesmo a presidente da câmara dos representantes isso sinalizará que os EUA estão atentos a possível jogada chinesa idêntica ao que a Rússia fez na Ucrânia. A China já avisou que vai retaliar se tal acontecer.

3 — BUCHA AINDA NÃO FOI O PIOR

A Alemanha alega ter gravações vídeo que comprometem soldados russos em comportamentos criminosos em Bucha contra civis; somam-se sinais de Mariupol ser o próximo caso de horror da agressão russa e acentua possibilidade de ainda mais sanções para breve; Borodiankha e Irpin foram outras provas de possíveis crimes de guerra da Rússia. Entretanto, a OMS teme ataques russos na Ucrânia com armas químicas para os próximos dias ou semanas. O Pentágono avisa que a Rússia ainda poderá voltar a tentar Kiev em fase posterior, embora aponte que “a Ucrânia pode ganhar esta guerra, até porque os russos até agora tiveram zero conquistas dos objetivos apontados”. A Rússia, como se esperava, foi suspensa do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na sequência da proposta conjunta de Ucrânia, EUA e Reino Unido.

4 — CLIMA PARA RETOMAR NEGOCIAÇÕES ESTÁ CADA VEZ PIOR

A Rússia acusa a Ucrânia de ter alterado posição negocial sobre Crimeia e Donbass; os níveis de desconfiança entre Kiev e Moscovo no pico desde o início da guerra; a Bielorrússia deverá participar na próxima ronda; a Turquia mantém-se para já como mediador mais bem posicionado e com trabalho mas avançado junto das duas partes. Mas a ideia forte, neste ponto, é mesmo que os horrores de Bucha, Irpin, Mariupol e Borodiankha tornaram o clima negocial ainda mais irrespirável.

5 — FRANÇA MOSTRARÁ PRIMEIRO GRANDE TESTE ELEITORAL NUM GRANDE PAÍS EUROPEU DESDE O INÍCIO DA GUERRA

Macron é favorito à reeleição, mas as últimas semanas mostraram tendência preocupante: depois de uma subida do Presidente francês nos primeiros dias, dados mais recentes revelam Marine Le Pen a crescer de forma consistente, com discurso focado na parte social e na exploração da crise dos preços da energia. Mesmo sendo Marine aliada de Putin, parte do eleitorado francês parece não querer penalizar isso. Provável segunda volta Macron/Marine, a confirmar, no próximo domingo, com presidente a ter vitória menos folgada que há cinco anos – óbvio motivo de preocupação. Será o primeiro sinal eleitoral num país chave da UE durante a guerra.