Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.
1 – VEM AÍ A “DURA BATALHA” DO LESTE
Promessa de Zelensky: “A Ucrânia está pronta para uma dura batalha no leste”. As forças russas vão-se acumulando no Donbass e o presidente da Ucrânia garante que o seu país está preparado: “Essa será uma batalha árdua, acreditamos nessa luta e na nossa vitória. Estamos prontos para lutar simultaneamente e buscar meios diplomáticos para acabar com essa guerra”.
O negociador ucraniano Mykhailo Podolyak disse que Zelensky e o presidente russo Vladimir Putin não se encontrarão até que o país derrote a Rússia no leste, o que reforçará a sua posição de negociação.
Moradores da região sitiada de Luhansk, no leste da Ucrânia, poderão evacuar a área ainda hoje através de nove comboios prontos para a fuga de civis. Serhiy Gaidai, governador de Luhansk, anunciou a notícia numa atualização no Telegram. A maioria dos comboios terá Lvid, na ponta oeste da Ucrânia, como destino. Num plano totalmente diferente, o Ministério da Defesa russo informou este sábado que 26.676 pessoas foram retiradas de zonas que os russos consideram “perigosas” da Ucrânia em 24 horas, sem envolvimento das autoridades ucranianas, elevando para 704.000 o número de deslocados pela Rússia desde o início da guerra. Mikhail Mizintsev, disse que 3447 menores se encontravam entre os deslocados.
Zelensky insiste na exigência de um embargo de petróleo, sem o qual “a Rússia continuará com uma sensação de impunidade”. “A Ucrânia não tem tempo para esperar. A liberdade não tem tempo para esperar. Quando a tirania lança agressão contra tudo o que mantém a paz na Europa, é preciso agir imediatamente. É necessário agir com princípios. E o embargo do petróleo deve ser o primeiro passo. Ao nível de todas as democracias, de todo o mundo civilizado. Se o fizerem, então a Rússia vai sentir. Será um argumento para eles – buscar a paz, parar a violência inútil”. “O mundo democrático pode definitivamente desistir do petróleo russo e torná-lo tóxico para todos os outros estados. O petróleo é uma das duas fontes de autoconfiança russa, a sua sensação de impunidade”.
2 – BORIS JOHNSON EM KIEV: “ZELENSKY RUGIU COMO UM LEÃO”
Um dia depois da presença na capital ucraniana da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também esteve em Kiev, ao lado de Zelensky.
Johnson destacou a coragem do povo ucraniano e elogiou Zelensky: “Nas últimas semanas, o mundo encontrou novos heróis e esses heróis são os cidadãos da Ucrânia. Estive aqui há umas semanas, noutra sala, penso que no seu palácio. As informações dos serviços secretos que tivemos sugeriram que os russos acreditavam que a Ucrânia podia ser engolida numa questão de dias. E que Kiev cairia numa questão de horas às mãos do seu exército. E tão errados que estavam. Penso que os ucranianos mostraram a coragem de um leão. O Volodymyr rugiu como esse leão”.
O Reino Unido promete enviar mais armas para a Ucrânia. Johnson não hesitou em afirmar: “A Ucrânia desafiou as probabilidades e afastou as forças russas dos portões de Kiev, alcançando a maior façanha militar do século 21. O Reino Unido está inabalavelmente com eles nesta luta em curso, e estamos nisso a longo prazo. Estamos a intensificar o nosso próprio apoio militar e econômico e convocando uma aliança global para encerrar essa tragédia e garantir que a Ucrânia sobreviva e prospere como uma nação livre e soberana”.
A visita não foi divulgada previamente. Boris Johnson é o primeiro líder de um país do G7 a visitar a Ucrânia desde o início da invasão russa.
3 – GENERAL RUSSO DA GUERRA NA SÍRIA É O NOVO COMANDANTE DA OFENSIVA DE MOSCOVO NA SÍRIA
Alexander Dvornikov, general com experiência na Síria, é o novo comandante da ofensiva russa na Ucrânia – um sinal preocupante de que Moscovo não faz grandes distinções nos métodos e nos planos sobre o que está a fazer na Ucrânia, em relação ao que já fez nos últimos anos em palcos de guerra muito diferentes, como a Síria e a Chechénia.
A retirada a norte já foi total e a Rússia prepara para se forcar a leste e no sul da Ucrânia. Os últimos bombardeamentos no Donbass já terão sido na sequência da estratégia do general Alexander Dvornikov.
Aliado de Assad, próximo de Putin, o general Dvornikov surge como nomeação em clima de crise interna na estratégia militar russa, dias depois de, pela primeira vez, o Kremlim ter reconhecido milhares de baixas entre as suas forças.
4 – O DILEMA QUE ZELENSKY ADMITE: “NINGUÉM QUER NEGOCIAR COM QUEM TORTURA UMA NAÇÃO, MAS NÃO PODEMOS PERDER A OPORTUNIDADE DE UMA SOLUÇÃO DIPLOMÁTICA”
É o grande dilema que o próprio Zelensky assume: é um paradoxo negociar com quem está a torturar a Ucrânia, mas a necessidade de se tentar uma solução diplomática exige que se procure essa oportunidade.
Numa entrevista exclusiva à Associated Press, o Presidente ucraniano afirmou que, ainda que compreenda que nem toda a gente fique satisfeita com “qualquer tipo de paz, sob qualquer condição”, é necessário colocar as emoções de lado e procurar uma solução diplomática para a guerra.
Zelensky pede que se coloquem de lado as emoções, “por mais difícil que seja”, para que se consiga chegar a uma solução diplomática: “Temos que entender que qualquer guerra deve terminar em paz ou acabará com milhões de vítimas. E mesmo assim, se houver milhões de vítimas, eventualmente a paz chegará, a guerra acabará. Ninguém quer negociar com pessoas que torturaram uma nação. Como homem e pai, entendo isso perfeitamente. (…) Não podemos perder oportunidades, se as temos, de uma solução diplomática”, afirma.
Volodymyr Zelensky diz ainda acreditar que se a Ucrânia fosse membro da NATO, a Rússia nunca teria invadido o país ou a guerra ter-se-ia desenrolado “de forma diferente”, já que a Ucrânia poderia contar com o “ombro amigo” dos países vizinhos.
5 – RÚSSIA É O PRIMEIRO PAÍS A RECONHECE O GOVERNO TALIBÃ NO AFEGANISTÃO
A Rússia reconheceu ontem o novo governo talibã no Afeganistão. Moscovo tornou-se, assim, na primeira capital mundial a legitimar o novo poder em Cabul, desde que o grupo fundamentalista islâmico regressou ao poder em agosto de 2021.
Em declarações à agência noticiosa russa Interfax, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, disse que o primeiro diplomata afegão enviado pelas novas autoridades chegou em março a Moscovo e recebeu as credenciais. Segundo Lavrov, o novo Governo do Afeganistão “conseguiu em geral manter o Estado à tona”, apesar da “falta de experiência de gestão, das restrições financeiras e económicas e da pressão política e diplomática dos Estados Unidos e dos seus aliados”. Ora, este reconhecimento agrava a ideia de que a Rússia de Putin se prepara, cada vez mais, para ser um estado à margem do consenso internacional, sem preocupações de estar isolada do caminho que a maioria dos países à sua volta tem vindo a seguir.