Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XLVII): entre o horror e a mentira

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XLVII): entre o horror e a mentira

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – OPERAÇÕES ESPECIAIS UCRANIANAS DESTROEM PONTE NA REGIÃO DE KHARKIV

Uma unidade de operações especiais da Ucrânia destruiu uma ponte enquanto um comboio russo a atravessava, no caminho que fazia para Izium, na região sudeste de Kharkiv, afirmou o Comando das Forças de Operações Especiais das Forças Armadas da Ucrânia.

Autoridades ucranianas relataram intensos combates nas proximidades de Izium nos últimos dias, dizendo que as forças russas estão tentando chegar à região leste de Donbass na direção da cidade.

A unidade ucraniana afirma ter destruído a ponte com uma carga explosiva como um comboio de um veículo blindado Tiger e vários camiões a atravessarem-na.

Entretanto, pelo menos quatro pessoas morreram e 10 ficaram feridas na madrugada desta quinta-feira, em Kharkiv, depois de um ataque aéreo que atingiu uma zona residencial. Desde o início da guerra, foram confirmadas mais de 230 mortes na região de Donetsk, localizada a leste do país.

2 – INCÊNDIO OU ATAQUE?

O navio de guerra russo “Moskva”, importante para a frota do Mar Negro, ficou ‘seriamente danificado’, admitiu Moscovo. No entanto, a Rússia insiste na versão de que tal decorreu de um incêndio provocado na sequência de uma explosão de munições.

O Ministério da Defesa russo disse que toda a tripulação do navio de guerra Moskva foi evacuada. O incidente ocorreu na noite de quarta-feira e os ucranianos afirmam terem atingido a embarcação como dois mísseis Neptuno, produzidos pela Ucrânia. O navio já tinha sido desafiado pelas tropas ucranianas na Ilha da Cobra no início da guerra.

Maksym Marchenko, governador de Odessa, garantiu em mensagem no Telegram que o incidente no navio russo foi provocado por um ataque de mísseis ucranianos.

3 – RÚSSIA SOBE O TOM DOS AVISOS À FINLÂNDIA E À SUÉCIA SOBRE UMA PROVÁVEL ADESÃO À NATO

A Rússia deixou mais um aviso à NATO sobre adesão da Suécia e da Finlândia à aliança militar. Moscovo alerta que que terá de reforçar as defesas e que a ideia de um Báltico “livre de armas nucleares” deixará de existir: “Não se poderá falar mais de um Báltico livre de armas nucleares, o equilíbrio tem de ser reposto”, disse Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.

A posição da Rússia quanto à cada vez mais provável adesão de finlandeses e suecos à Aliança Atlântica é a que isso ameaçará a estabilidade e a segurança europeias.

Estocolmo já reagiu: a chefe da diplomacia, Ann Linde, considerou que estas ameaças russas “são inaceitáveis” e lembrou que “a situação de segurança na Europa mudou drasticamente após o ataque russo à Ucrânia”.

A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, admitiu ontem que nas a decisão final sobre pedido de adesão à NATO “será tomada nas próximas semanas”.

A Finlândia e a Suécia têm já o estatuto de parceiro próximo da NATO e pertencem à UE. O número de finlandeses a desejar entrar na NATO duplicou desde a invasão da russa à Ucrânia: passou de 30 e poucos por cento para mais de 60%. Se o governo finlandês passar a assumir oficialmente esse desígnio, esse apoio sobe para os 77%.

Com a próxima cimeira da NATO agendada para 29 e 30 de junho, em Madrid, começa a ser provável um cenário do pedido de finlandeses e suecos a ser concretizado nos dias ou semanas anteriores, de modo a que possa ser oficializado nesse importante momento na capital espanhola.

4 – QUEM PAGA O QUE A RÚSSIA ANDA A ESTRAGAR?

“Precisamos de árbitros ou então acabamos todos na violência e na barbárie” (Hannah Arendt).

A Ucrânia estima que sejam precisos 550 A 600 mil milhões de dólares para reconstruir o país depois dos bombardeamentos. Ora, o Fundo russo das receitas da energia é de 600 Mil Milhões (sendo que 315 Mil Milhões estão congelados pelas sanções).

Há um princípio de bom senso, que aprendemos desde cedo, quando na escola partimos um vidro a jogar à bola: quem estraga, paga; será a Rússia a pagar pelo que está a destruir ou será, uma vez mais, uma espécie de Plano Marshall versão século XXI, com financiamento americano e europeu?

A presença, há dias, da Presidente Von der Leyen em Kiev abriu já a perspetiva de um forte envolvimento europeu nessa reconstrução. Mas nesta fase sobram dúvidas e inquietações. E quase não há respostas.

5 – DOS VIVOS E DOS MORTOS

“Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e a dos mortos” (Mia Couto).

É disto que me lembro quando vejo as imagens de Bucha ou Mariupol.

Não pode haver precedentes que sinalizem aos líderes autoritários que vale a pena romper com qualquer regra internacional; se a agressão de Putin tiver sucesso não será só a Ucrânia que verá os seus sonhos destruídos e a sua integridade violada.

Seremos todos nós, que desejamos continuar a viver num mundo de Liberdade, segurança e bem-estar que seremos atingidos. Vamos perder todos. O que acontecer na Ucrânia não ficará na Ucrânia.