Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XXXIII): a ameaça nuclear e as “nuances” negociais

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XXXIII): a ameaça nuclear e as “nuances” negociais

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – NUCLEAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO

A Rússia só usaria armas nucleares se houvesse uma ameaça à existência do país – e não como resultado da guerra em curso na Ucrânia, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em entrevista à PBS Newshour. “Qualquer resultado da operação (na Ucrânia), é claro, não é motivo para o uso de uma arma nuclear”, disse Peskov. “Temos um conceito de segurança que afirma muito claramente que somente quando houver uma ameaça à existência do Estado Russo podemos usar armas nucleares para eliminar a ameaça à existência de nosso país.” Ora, a grande questão, está obviamente na definição do conceito russo sobre o que é uma ameaça à existência do seu estado.

2 – E, SIM, OS UCRANIANOS VOLTAM A MOSTRAR FORTE CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA

As forças ucranianas terão conseguido recuperar totalmente, no dia de ontem, o controlo de Irpin, localidade perto de Kiev, e provavelmente também de Trostyanets. Os civis começaram a ser retirados da cidade a 7 de março. Já saíram de Irpin mais de três mil pessoas. Tratam-se de avanços significativos para a contra-ofensiva da Ucrânia, que abre um fosso nos esforços da Rússia para cercar as cidades ucranianas. O Ministério da Defesa da Ucrânia acabou de divulgar seu último relatório operacional, eram 6h da manhã em Portugal continental, alegando que suas forças realizaram contra-ataques bem-sucedidos em algumas direções. A Rússia continua a realizar ataques com mísseis-bomba na tentativa de “destruir completamente a infraestrutura e os bairros residenciais das cidades ucranianas”, refere o relatório. Tais ataques nas regiões temporariamente ocupadas de Kiev, Zaporizhzhya, Chernihiv, Kherson e Kharkiv violam os requisitos do direito humanitário internacional e têm visto as tropas russas continuarem a aterrorizar populações civis. “Casas residenciais são baleadas; civis são roubados, sequestrados e mantidos como reféns”. Um total de sete ataques russos foram travados no último dia, com 12 tanques e 10 veículos de combate destruídos, segundo autoridades. A Força Aérea da Ucrânia também terá atingido durante o dia de onte, 17 alvos aéreos, incluindo 8 aeronaves, 3 helicópteros, 4 UAVs e 2 mísseis – os números, insisto, são de fonte militar ucraniana.

3 – SCHOLZ, DRAGHI, JOHNSON E ALYEV

Zelensky conversou ontem com Olaf Scholz, Mario Draghi e Boris Johnso. O Presidente ucraniano apostou nas últimas horas em longas conversas telefónicas com o chaneceler alemão, o PM italiano e o líder do executivo britânico. També, com o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, em mais uma prova de que a Rússia de Putin está longe de ter garantidos os apoios de países que supostamente seriam esfera pós-soviética, mas que não alinham nesta agressão criminosa da sobre a Ucrânia. Na conversa de há pouco com Scholz, Zelensky discutiu com o chanceler alemão “o curso do processo de negociação”. A Boris Johnson, Zelensky pormenorizou a situação humanitária crítica nas cidades cercadas” e partilhou “informação sobre as discussões de paz”. Zelensky e Johnson abordaram também a possibilidade de mais sanções à Rússia e a cooperação em matéria de defesa”. Com o Presidente do Azerbaijão, Aliyev, supostamente um aliado de Putin antes desta guerra, Zelensky discutiu “a necessidade urgente de corredores verdes” para a evacuação de ucranianos e agradeceu a ajuda humanitária o Azerbaijão.

4 – ISOLAMENTO RUSSO ESTENDE-SE E AGRAVA-SE

Na Rússia, o jornal Novaya Gazeta, um dos órgãos mais independentes ainda no ativo no país, anunciou que vai suspender a sua atividade “até ao fim da operação especial na Ucrânia”, depois de ter recebido um segundo aviso do regulador russo da comunicação social. Isso aponta para ainda maior isolamento russo em relação ao exterior e a vozes diferentes das do Kremlin. Nesse âmbito, a Rússia restringirá a entrada de pessoas de ‘países hostis que incluem o Reino Unido, todos os países da UE e os Estados Unidos’, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov. Lavrov acrescentou que o ato introduzirá “uma série de restrições à entrada na Rússia”, sem dar detalhes. Os países que agora pertencem a essa lista incluem EUA, Austrália, Canadá, Grã-Bretanha, Nova Zelândia, Japão, Coreia do Sul, todos os estados membros da UE e vários outros.

5 – GUTERRES NOMEIA MARTIN GRIFFITHS

António Guterres, que no início desta guerra se destacou como primeiro Secretário-Geral da história da ONU a acusar claramente um membro do Conselho Permanente (a Rússia) de violar a Carta das Nações Unidas, pediu a Martin Griffiths, que foi Enviado-Especial da ONU ao Iémen e estava agora no Afeganistão, que procure “um acordo possível para um cessar-fogo humanitário na Ucrânia”. Griffiths vai regressar de Cabul, no Afeganistão, ainda hoje, e irá a Moscovo e Kiev “assim que for possível” para dar início a essas conversações. Caberá às partes definirem a data para esse cessar-fogo. Guterres assegurou que a ONU está a fazer “tudo o que está ao seu alcance” para “apoiar as pessoas cujas vidas ficaram viradas do avesso” por causa da guerra. As agências humanitárias e os parceiros da ONU já chegaram a 900.000 pessoas, sobretudo no leste do país, levando alimentos, água e medicamentos. Há, agora, mais de mil trabalhadores da ONU no país. Para Guterres, “a solução para esta tragédia humanitária não é humanitária, mas política”.