Germano Almeida

Comentador SIC Notícias

Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XXXIX): crimes e castigos

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Compreender o conflito (XXXIX): crimes e castigos

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – BORIS JOHNSON FALA EM “CRIMES DE GUERRA”

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que o assassinato de civis inocentes em Irpin e Bucha é “mais uma evidência de que Putin e seu exército estão cometendo crimes de guerra na Ucrânia”. Também o presidente da Ucrânia, Zelensky, foi duro nas palavras e nos termos: “Isto é um genocídio”. Zelensky dirigiu-se às forças russas como “assassinos”, “torturadores” e “violadores”. Prometeu investigar e processar todos os “crimes” russos na Ucrânia, dizendo que criou um “mecanismo especial” para fazê-lo.

2 – REALIDADE ALTERNATIVA: RÚSSIA EXIGE REUNIÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU PELA “PROVOCAÇÃO DOS RADICAIS UCRANIANOS EM BUCHA”

A Rússia solicitou uma reunião de emergência do conselho de segurança da ONU, citando a “provocação de radicais ucranianos em Bucha” por trás do pedido de negociações. Dmitry Polyansky, vice-representante da UNSC da Rússia, twittou no domingo: “À luz da provocação hedionda dos radicais ucranianos em Bucha, a Rússia solicitou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira, 4 de abril.” A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, acrescentou que a reunião é para discutir as tentativas de Kiev de interromper as negociações de paz e aumentar a violência com uma “provocação” em Bucha. Zakharova escreveu no Telegram: “A Federação Russa solicitou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em conexão com a provocação dos militares e radicais ucranianos na cidade de Bucha.”

3 – E AS CRIANÇAS, SENHOR?

As autoridades judiciais da Ucrânia avançaram que 153 crianças morreram e 245 ficaram feridas na sequência da invasão russa do país, que se iniciou no dia 24 de fevereiro. “Quase 400 crianças foram afetadas diretamente na Ucrânia desde o começo da agressão armada da Federação da Rússia, entre os quais 153 foram ‘assassinadas’ e 245 ficaram feridas”, disse a Procuradoria Geral da Ucrânia numa mensagem difundida pela rede social Telegram, citada pela agência Ukronform de Kiev. A maior parte das crianças residiam nas regiões de Kiev, na autoproclamada república de Donetsk e na cidade de Karkhiv no noroeste e nas regiões norte da Ucrânia particularmente atingidas pelos bombardeamentos russos.

4 – UM QUARTO DOS UCRANIANOS JÁ TEVE QUE FUGIR DE CASA

A ONU estima que 25% dos ucranianos tiveram de fugir de casa.

Sete milhões de ucranianos são hoje deslocados internos por causa da guerra, um número que aumenta se forem contabilizados os que fugiram para o exterior.

O porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários na Ucrânia afirmou que 11 milhões de pessoas tiveram de sair de casa por causa da guerra e metade da população perdeu o emprego.

5 – OS SINAIS INDIANOS

Temos olhado muito para a China, vale a pena também interpretar os sinais que vêm da visita de Lavrov a tentar o alinhamento da Índia.

A viagem do chefe da diplomacia russa a Nova Deli mostra que Moscovo está a contar não só com a China, mas também com a Índia para a criação de uma espécie de frente anti-NATO nos valores e no posicionamento comercial.

Nova Deli tem mantido a neutralidade desde o início da invasão russa da Ucrânia, abstendo-se de condenar a agressão de Moscovo na Assembleia Geral das Nações Unidas. A Índia depende militarmente da Rússia, país fornecedor de entre 60% a 70% do equipamento bélico, além da aquisição do petróleo russo cujo preço tem baixado em virtude das sanções internacionais.

A neutralidade demonstrada desde fevereiro e o encontro em Nova Deli geraram ceticismo nos Estados Unidos e nos países do bloco europeu. Lavrov disse que a “amizade” entre Nova Deli e Moscovo é “histórica”, a “aliança estratégica” com o país “é uma prioridade da política externa” da Rússia.

As ligações conduziram ao incremento dos “laços bilaterais recentes, com o desenvolvimento de numerosos projetos nas áreas da energia, ciência, tecnologia e indústria farmacêutica”. A Índia sempre promoveu o diálogo e a diplomacia face a diferenças e disputas. Os encontros também definiram o mecanismo de pagamento da Índia na aquisição de petróleo da Rússia a preços competitivos sem que Nova Deli se exponha às sanções internacionais que atingem a economia russa.

Questionado sobre a relação entre a Rússia e a Índia, o porta-voz para a Política Externa dos Estados Unidos, Ned Price, disse na quinta-feira, em Washington, que os Estados Unidos não pretendem alterar a relação entre Moscovo e Nova Deli mas sim que “‘comunidade internacional’ fale a uma só voz” para pedir o fim da violência na Ucrânia.