Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.
1 – OS EQUÍVOCOS CHINESES
Na Cimeira União Europeia/China, a UE alertou Pequim contra permitir que Moscovo contorne as sanções económicas impostas em resposta à invasão da Ucrânia. Na reunião, a China ofereceu garantias de que buscaria a paz para a Ucrânia, mas “à sua maneira”. Já hoje, um diplomata chinês garantiu que o governo de Pequim não está deliberadamente a contornar as sanções contra a Rússia. Um dia depois da reunião virtual entre a China e a União Europeia, Wang Lutong, diretor-geral de assuntos europeus do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que a China está a contribuir para a economia global ao conduzir o comércio normal com a Rússia. “A China não é uma parte na crise da Ucrânia. Não achamos que nosso comércio normal com nenhum outro país deva ser afetado”. “Nós nos opomos às sanções, e os efeitos dessas sanções também correm o risco de se espalhar para o resto do mundo, levando a guerras cambiais, guerras de comércio e finanças e também arriscando comprometer a cadeia de suprimentos e a cadeia industrial e a globalização e até mesmo a ordem económica.” Wang Letong também disse que Ucrânia, Irão e outros são “pontos de cooperação” e não de atrito. E a China também está contra a expansão da NATO. A diplomacia chinesa acusou Washington de instigar a guerra na Ucrânia e disse que a NATO devia ter sido dissolvida após o colapso da União Soviética. “Como culpados e principais instigadores da crise na Ucrânia, os Estados Unidos conduziram à expansão da NATO a leste, em cinco etapas, nas últimas duas décadas”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian. “O número de membros da NATO aumentou de 16 para 30, e a Aliança expandiu-se para leste, abrangendo mais 1.000 quilómetros, para locais perto da fronteira russa, encurralando a Rússia contra um muro, passo a passo” Sinaliza que Pequim tem visão alinhada com Moscovo – e não deixa de constituir uma espécie de apoio implícito à posição russa de travar a entrada da Ucrânia na NATO.
2 – METSOLA EM KIEV A ASSOCIAR A EUROPA À LUTA DOS UCRANINOS
Roberta Metsola foi a Kiev dizer a Zelensky e aos deputados ucranianos que a Europa está com a Ucrânia e reconhecer que esta é uma luta não só do povo ucraniano mas de todos os que defendem os valores europeus. Metsola é o primeiro representante de uma instituição europeia a viajar para a Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro. A dirigente maltesa foi clara em apontar o objetivo de gás russo zero na Europa. A visita surpresa da presidente do Parlamento Europeu a Kiev é “um poderoso sinal de apoio político”, afirmou Denys Shmyhal. Metsola falou em Kiev com o primeiro-ministro ucraniano sobre a necessidade de “ir mais longe” nas sanções contra a Rússia para travar a invasão militar “injustificada e inaceitável” da Ucrânia. O primeiro-ministro ucraniano, que assegurou a Metsola que o seu país está “totalmente preparado para o próximo passo no caminho para a UE”, agradeceu a “ajuda global” financeira, militar e humanitária. Metsola insistiu: “A resiliência e a coragem dos ucranianos inspiraram o mundo. Estou em Kiev para dar uma mensagem de esperança. Estamos convosco. Ajudaremos a reconstruir as vossas cidades e aldeias quando tiver passado esta guerra ilegal, não provocada e desnecessária. Estamos agora a prestar ajuda financeira, militar e humanitária. Vai continuar e aumentar”.
3 – O MISTÉRIO DE BELGOROD
O Ministério da Defesa da Rússia acusou a Ucrânia de ter sido a autora do ataque a um depósito de combustível, alegadamente por dois helicópteros ucranianos Mi-24, que invadiram o espaço aéreo russo em baixa altitude. A acusação é negada pelo governo da Ucrânia. Os mísseis disparados pelos Mi-24 atingiram uma base de armazenamento de produtos petrolíferos para abastecimento de transporte civil, localizada nos arredores de Belgorod, próximo da fronteira russo-ucraniana, causando um grande incêndio. Belgorod está localizada a cerca de 30 quilómetros da fronteira com a Ucrânia e a cerca de 70 quilómetros de Kharkiv, a cidade mais importante do leste da Ucrânia, que está cercada pelos russos. Em reação ao alegado ataque ucraniano em território russo, o Kremlin declarou que o incidente pesaria nas negociações para encerrar a ofensiva russa na Ucrânia. O ataque é o primeiro deste tipo, se for confirmado que foi mesmo realizado pela Força Aérea ucraniana e ocorreu quando a Rússia afirma repetidamente ter o controlo total do espaço aéreo na Ucrânia. O desmentido ucraniano foi feito nestes moldes: “a Ucrânia não pode assumir a responsabilidade por todos os erros, catástrofes e eventos que ocorrem em território russo. “Atualmente o Estado ucraniano está a conduzir uma operação defensiva para repelir a agressão militar russa no território da Ucrânia”. Embora o ataque não tenha resultado em vítimas, cerca de 50 pessoas tiveram que ser retiradas do local. Os serviços de emergência indicaram que o fogo se alastrou para oito tanques, cada um com capacidade de 2.000 metros cúbicos.
4 – “BATALHAS ENORMES” PERTO DE KIEV
Vitaly Klitschko, o presidente da Câmara de Kiev, revelou que “enormes” batalhas estão a ser travadas ao norte e leste da capital da Ucrânia. “O risco de morrer (em Kiev) é bastante alto e é por isso que aconselho quem quer voltar para que espere mais um pouco”, apelou Klitschko, citado pela Reuters.
O governador da região de Kiev tinha dito ontem que as forças russas estão a recuar em algumas áreas ao redor da capital, mas fortalecendo posições noutras.
5 – OLHEMOS PARA MYKOLAIV
Um dos principais objetivos russos será o de chegar até Odessa para conseguir fechar o corredor sul, uma vez feita a ligação ao Donbass, por Mariupol.
Nesse sentido, é muito importante perceber, nos próximos dias, se o plano militar da Rússia passa, ou não, por tentar o controlo de Odessa. Por enquanto, a terceira maior cidade ucraniana, maior porto marítimo e para muitos a mais bela das cidades da Ucrânia, mantém-se altamente protegida.
As tropas ucranianas conseguiram travar o avanço russo na região de Kherson. Pelo menos 10 aldeias foram libertadas e estarão novamente sob domínio de Kiev. Falta saber se as tropas russas vão conseguir passar Kherson e rumarão a sul, rumo a Mykolaiv – a última proteção ucraniana antes de Odessa. Ataque russo a edifício administrativo em Mykolaiv fez pelo menos 27 mortos.