O conflito entre a Rússia e a Ucrânia levanta questões sobra a urgência de uma reforma das Nações Unidas. Depois das imagens da cidade de Bucha – que Moscovo continua a dizer tratar-se de uma encenação –, a intervenção da ONU torna-se cada vez mais necessária. No entanto, sendo a Rússia um dos membros permanentes no Conselho de Segurança, o país a “ser juiz em causa própria”, diz Germano Almeida.
“O problema é que a ONU foi pensado num pós-II Guerra Mundial, em que a Rússia, que fez parte dos vencedores, é membro permanente do Conselho de Segurança. E isso é uma contradição: neste momento a Rússia está a ser juiz em causa própria e está a autoproteger-se, porque vai bloquear qualquer tipo de ação mais definitiva”, diz o comentador.
Germano Almeida reconhece que existem contradições no interior da organização e lembra que a reforma das Nações Unidas integra o programa do secretário-geral António Guterres. No entanto, o conflito que está em curso desde 24 de fevereiro vem aumentar esta necessidade.
“Se não é num momento como este – de uma guerra na Europa promovida pela segunda maior potência em termos de exército convencional e maior potência nuclear do mundo que achou, porque sim, que poderia invadir um Estado soberano vizinho aparentemente mais fraco – que a ONU intervêm, de forma decisiva, de modo a conseguir travar o conflito e proteger quem está a ser agredido… Então, lamentavelmente, estamos numa situação em que ou consegue passar a ter um papel decisivo – e não está a ter – ou começa a necessidade da sua reforma ou então tem de se repensar a sua existência”, afirma.
A posição e os interesses da China e da Índia no conflito
Tanto a China como a Índia têm demonstrado posições ambíguas face à guerra russa na Ucrânia. No entanto, Germano Almeida considera que “o horror de Bucha tornou a ambiguidade da China praticamente insustentável”.
Se por um lado, a China não tem interesse “a nível reputacional de apoiar a guerra na Ucrânia”, por outro tem interesses na condenação das sanções económicas avançadas pelos países do ocidente contra Moscovo.
“Tudo o que tenha a ver com redução de relações comerciais não interessa à China, que tem o seu modelo de crescimento baseado no aumento de alargamento brutal das relações interdependentes a nível comercial em todo o mundo. Interessa à China o mercado russo, mas interessa muito mais o mercado europeu e norte-americano”, explica.
Por outro lado, interessa também à China a aquisição de combustíveis e produtos energéticos a um preço mais baixo. É o que irá acontecer se os países da Europa e norte da América deixarem de comprar petróleo e gás natural à Rússia, em que irá colocar estes dois produtos “em saldos”.
CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA
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