O presidente da Endesa Portugal afirmou que a reformulação da estratégia energética na Europa, devido à guerra na Ucrânia, poderá permitir a Portugal mitigar uma vulnerabilidade histórica, pois tem condições “excecionais” para as renováveis.
A guerra na Ucrânia fez disparar os preços da energia na União Europeia, expondo a dependência da região ao gás e ao petróleo importado da Rússia. Em reação, Bruxelas a 8 de março apresentou medidas de mitigação desse impacto a curto prazo, mas também de reformulação do quadro energético a médio prazo.
“Para Portugal isto traz um catalisador de ações e de valorização de condições geográficas e até geológicas que é favorável para o país mitigar a histórica vulnerabilidade e calcanhar de Aquiles que sempre a energia constituiu para nós”, disse Nuno Ribeiro da Silva, em entrevista à Agência Lusa.
“Temos condições muito favoráveis, diria quase excecionais, no que respeita a recursos em energias renováveis”, sublinhou. “Não temos muitas vezes consciência disso, mas só aqui nesta faixa mediterrânica é que se encontra um misto de fontes renováveis muito equilibrado, porque temos sol, temos vento, temos a possibilidade de usar superfícies oceânicas, temos alguma água, independentemente de haver uns anos piores”, referiu, sublinhando que “só com o vento e a água temos um misto muito equilibrado e muito explosivo”.
“Península Ibérica tem oportunidade de ser um canal de injeção de grandes quantidades de gás para o todo o espaço europeu”
Segundo Nuno Ribeiro da Silva, Portugal tem uma situação privilegiada para aproveitar essas fontes “que estão na ordem do dia e já estavam na ordem do dia”.
Em relação ao gás natural, explicou que a Península Ibérica, por ter estado “sempre algo em ilha com o resto da Europa”, desenvolveu a estratégia de gás com base em terminais.
Na Península Ibérica existem sete terminais (seis em Espanha e um Portugal, em Sines).
“São mais terminais do que no resto da Europa”, acrescentou. “Isto não se faz de um dia para o outro, mas potencialmente o ocidente europeu, a Península Ibérica tem oportunidade de ser um canal de injeção de grandes quantidades de gás para o todo o espaço europeu, de alguma maneira compensando a substituir o grande canal de injeção que vem de Leste da Rússia”, disse.
Ribeiro da Silva vincou que para este plano se concretizar “é necessário e isso está previsto no documento da União Europeia e que até fala explicitamente na Península Ibérica, tem que haver um investimento muito grande em infraestrutura”.
“[É preciso]esta autoestrada de trânsito de gás para a Europa para lá dos Pirenéus e substituir os caminhos de cabras e as ruelas que existem”, referiu.
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