Guerra Rússia-Ucrânia

Gritos de revolta fundem-se com sentimentos de dor e alegria

Crónica de Rui Caria, em Kiev, na Ucrânia.

Gritos de revolta fundem-se com sentimentos de dor e alegria

O número 59 desta rua, de um bairro a cerca de quinze quilómetros do centro de Kiev, não era um alvo estratégico militar; era apenas a casa da Natalia Kravchenko, uma mulher de 60 anos que por sorte, ainda pôde chorar hoje, enquanto olhava para a sua casa desfeita por um rocket que a atingiu às oito da manhã.


Poder chorar, em tempo de guerra, pode ser também um sinal de alegria. A alegria que não têm os que têm morrido em ataques semelhantes praticamente todos os dias, neste país, desde o início desta guerra, há quase um mês.


Nos gritos de revolta desta senhora fundiram-se sentimentos de dor e alegria que, por momentos, abafaram as sirenes que tocaram toda a manhã pela cidade de Kiev. A dor pela perda dos bens e das memórias de uma vida misturou-se com a alegria da decisão tomada ontem, por ela e pelo marido, de não passarem a noite no abrigo que tinham improvisado na cave da casa que agora não existe senão em pedaços.


A decisão, puramente arbitrária, de terem dormido num anexo afastado da casa, salvou-lhes a vida hoje. E amanhã?