As Nações Unidas alertam que as minas e explosivos colocados na Ucrânia irão demorar “décadas” a serem removidas, ameaçando a vida da população muito depois do conflito terminar. Pedro Marquês de Sousa, tenente-coronel de artilharia na reserva, destaca a “perversidade” deste tipo de armamento que não distingue civis de militares.
“Uma das consequências de um conflito de alta intensidade é não só na fase em que as operações decorrem e esse armamento é utilizado, mas também no pós-guerra em que ficarão muitas munições por detonar”, disse em entrevista à SIC Notícias.
O tenente-coronel considera que “as minas são o sistema de armas mais perverso”, mas destaca que há mais tipos de armamento que podem trazer consequências à população ucraniana no pós-guerra – tais como munições convencionais, granadas de artilharia, os engenhos explosivos improvisado e as armadilhas.
“Na Ucrânia há registo de minas de última geração que os russos criaram e utilizam, que têm o caráter inovador de serem lançados por sistemas à distância. Têm sensores muito afinados, sensíveis à vibração dos passos de uma pessoa que se aproxima. E depois têm a possibilidade de se levantarem a cerca de um metro para atingirem as partes sensíveis – olhos, pescoço, virilhas das pessoas – e num raio que pode ser de 8 a 12 metros.”
Pedro Marquês da Silva lembra que através do sistema de lançamento não existe um mapeamento dos campos de minas e destaca a importância de haver uma “operação de estabilização” para desminar o território ucraniano no final do conflito. Dá como exemplos operações semelhantes levada a cabo pelas Nações Unidas, juntamente com os sapadores do exército de vários países.
Do lado da Ucrânia, terão também sido utilizadas minas aquáticas antigas – da era da União Soviética – para impedir os navios russos de chegarem a Odessa. O tenente-coronel avança que algumas dessas minas podem ter-se separado, o que traz também perigo para as navegações civis que circulem no Mar Negro.
Sobre a utilização de armamento proibido pela Conferência de Otava, assinado na década de 1990, Pedro Marquês de Sousa lembra que a Rússia, os Estados Unidos, a China e a Índia não assinaram a convenção e que este tipo de armas – como as munições termobáricas ou de vácuo – já foram utilizadas em conflitos anteriores.
“Esta guerra ficará na história certamente porque, ao contrário de outras experiências como na Síria ou no Afeganistão, está na Europa ocidental. Está a ser acompanhada pelas redes sociais, de uma forma especial pelos jornalistas, está a entrar nas nossas casas, estes sistemas de armas e as suas consequências perversas vão ficar mais conhecidos do que ficaram no caso da síria e no Afeganistão. As armas termobáricas também foram utilizadas pelos Estados Unidos nas cavernas do Afeganistão e na Síria pelos russos”, explica.
CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA
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