Moscovo acusou esta quinta-feira Kiev de voltar atrás em algumas das propostas que apresentou nas conversações que decorreram na Turquia, no final de março, sobre as quais o Kremlin disse que havia já um entendimento.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, denunciou um revés nas negociações com a Ucrânia devido à mudança de posição de Kiev, nomeadamente em relação à península ucraniana da Crimeia, anexada pelos russos em 2014, à região do Donbass, e também à possibilidade de realizar manobras militares.
“[Isto] caracteriza mais uma vez as verdadeiras intenções de Kiev e a sua política de prolongar e até abortar as negociações através da renúncia aos entendimentos já alcançados”, acusou Lavrov, num comunicado divulgado pelo seu gabinete.
No projeto de acordo conseguido em 29 de março, segundo o Kremlin, os ucranianos afirmaram “que as futuras garantias de segurança da Ucrânia não se estenderiam à Crimeia e a Sebastopol“.
“No novo documento, apresentado quarta-feira, essa declaração, clara, está ausente“, explicou.
Além disso, segundo Lavrov, Kiev exigiria agora que os Presidentes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, negociassem diretamente sobre a Crimeia e o Donbass, a área no leste da Ucrânia onde Moscovo reconheceu duas regiões separatistas pouco antes de lançar a sua ofensiva militar contra a Ucrânia.
“A ideia é óbvia, mas é inadmissível“, afirmou Lavrov, sugerindo que na próxima fase o lado ucraniano “vai pedir a retirada das tropas, acrescentando cada vez mais condições”.
Finalmente, segundo o ministro russo, Kiev inverteu uma disposição que prevê que Moscovo possa opor-se a todas as futuras manobras militares que envolvam forças estrangeiras em território ucraniano.
Segundo o chefe da diplomacia russa, na nova proposta ucraniana “esse ponto foi modificado” e Kiev poderia realizar manobras “com a aprovação da maioria dos países garantes, sem qualquer alusão à Rússia“.
“Vemos, a este respeito, que o regime de Kiev é controlado por Washington e pelos seus aliados, que pressionam o Presidente Volodymyr Zelensky a continuar as ações militares”, lamentou o ministro dos negócios estrangeiros russo.
Apesar de “todas as provocações, a delegação russa continuará o processo de negociações, apresentando o nosso projeto de acordo em que as nossas posições-chave e as nossas exigências estão claras”, sublinhou.
A resposta da Ucrânia a Lavrov
A Ucrânia apelou esta quinta-feira a Moscovo que “reduza o seu grau de hostilidade” nas negociações de paz, após a Rússia ter acusado a Ucrânia de recuar nas propostas emitidas durante as conversações de finais de março em Istambul, Turquia.
“Se Moscovo pretende demonstrar estar pronta para o diálogo, deve reduzir o seu grau de hostilidade”, declarou na rede social Twitter um conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Mykhailo Podoliak, um dos membros da delegação ucraniana envolvida nas discussões em curso com a Rússia.
🇷🇺 propagandists are as responsible for atrocities in 🇺🇦 as the army. For years, they’ve nurtured hatred for 🇺🇦 in media. Now the 🇷🇺 viewer wants 🇺🇦 blood and doesn’t accept excuses. If Moscow wants to show readiness for dialogue, the degree of hostility in media must be reduced.
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) April 7, 2022
Podoliak afirma ainda que os “propagandistas são responsáveis pelas atrocidades na Ucrânia” e que o ódio foi “alimentado” durante anos nos media. “Agora os espetadores russos querem sangue ucraniano e não aceitam desculpas.”
Com LUSA
CONFLITO RÚSSIA-UCRÂNIA
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