Cerca de um em cada dois habitantes de Kiev terá já saído da cidade para fora ou do país ou para zona mais segura. Os que ficam na capital da Ucrânia enfrentam algumas filas nos poucos supermercados e farmácias disponíveis e mantém a fé na capacidade do exército para manter os russos ao longe.
Os enviados especiais da SIC em Kiev encontraram não só fé e resiliência, mas também um pedido de casamento feito em plena guerra, com sirenes a tocar lá fora.
Nos limites a norte da capital ucraniana, Max e Maria vivem de dias de profunda felicidade. Parece ironia, a guerra ali tão perto, mas ainda há poucos dias Max encheu-se de coragem e no abrigo de um prédio, onde todos os vizinhos dormem cada vez que a sirene toca, pediu Maria em casamento.
Ele tem 26 anos, ela 19. Não fugiram de Kiev, querem mostrar ao invasor que a cidade tem gente dentro que não desistiu nem de sonhar nem de amar.
“Nos primeiros dias da guerra, eu não pensava em pedir a Maria em casamento. Mas depois achei que a nossa vida não podia parar por causa da atitude de um ditador louco. A vida tem de continuar”, contou Max.
Com as ourivesarias fechadas, o anel acabou improvisado em pedras azuis.
Tal como Max e Maria, muitos insistem em ficar, como Valentina, de 72 anos, que todos os dias desce à rua para alimentar um corvo que parece conhecer de cor. O que lhe custa mais nem é o avanço russo, é ver os tantos que tombam para os enfrentar.
“Tenho muita pena do nosso povo em Kharkiv ou Mariupol, tenho muita pena. Lamento também os nossos jovens que estão a morrer em combate e os jovens de outros países, embora eles soubessem para onde vinham. Mas tenho muita pena, vêm até aqui para morrer”.