Nas últimas três semanas, Lviv, no oeste da Ucrânia, tornou-se um porto de abrigo para os ucranianos em fuga. De um dia para o outro, inventaram-se espaços para acolher a vaga de deslocados.
Olivia chegou de madrugada a um abrigo improvisado numa antiga fábrica de Lviv, com quatro meses – e três semanas de guerra. Nasceu a pouco mais de 30 quilómetros da Rússia, em Kharkiv, a segunda cidade da Ucrânia e um dos primeiros alvos da ofensiva militar russa. A maior parte passa aqui duas ou três noites antes de partir para a Polónia.
Já Sasha Ostapchuk, com quatro anos, é o veterano entre as crianças do abrigo. Chegou há mais de uma semana de Kharkiv e a família planeia ficar aqui até ao fim da guerra, não tendo para onde ir.
Há três semanas, numa outra vida, a mãe trabalhava num consultório de dentista e o pai num supermercado. Com a guerra, ambos perderam o emprego e tiveram de sair de casa, sendo que tudo o que têm agora como certo cabe em duas malas.
Yana Sushko e Byo Mudasiru falam com a filha em russo, a primeira língua para a maioria dos habitantes de Kharkiv, mesmo para muitos que nasceram noutro país, como Byo, que veio com a mãe, da Nigéria, ainda criança. A vida que tinham começado a construir em conjunto há dois anos desmoronou-se em poucos dias.
O tradutor explica que, depois dos primeiros bombardeamentos, a família, apavorada, passou dias e noites no metro de Kharkiv. Acabariam por voltar a casa e improvisar um abrigo na casa de banho, que forraram com almofadas para tentar abafar o som e o medo.